O Homem moderno
Por Dario Souza da Silva
O homem moderno vive encarcerado em si mesmo. Não tem tempo de contemplar, pois isto não é rentável. Não pode dar-se o luxo de ausentar-se, muito embora raras vezes esteja de fato presente de corpo e alma. Sua mente leva sua alma para os recônditos mais remotos onde tece tramas em que seu EU é o protagonista. Mas sua casca, seu corpo, este que perde o vigor com o passar dos anos e que sente a dureza da vida, permanece ali estático, aguardando em mais um congestionamento no trânsito, numa fila de banco ou num caixa de supermercado.
Aguardando, aguardando e aguardando este homem segue. Tão cheio de si, tão seguro de seus pensamentos, de seus desejos e de suas convicções, que mal pode olhar para o lado e contemplar a beleza de uma flor, as sutilezas de um olhar, a divindade da vida por si só.
Este homem se olha no espelho e não percebe ali naquela imagem, naquela casca, o que em verdade habita o seu interior. Continua escravo de seus pensamentos e emoções, escravo da propaganda e da mídia, continua sempre adiante no frenético ritmo do consumismo capitalista, na desenfreada busca pelo reconhecimento alheio, juntando migalhas em busca de medalhas.
Este homem segue! Resignado de si. Encarcerado em sua realidade, aprisionado por suas vontades, ansioso pelas novas notícias, pelas fotos, tecnologias de ponta, por um aumento, uma promoção, um aplauso. Este homem sabe de tudo, conhece de tudo, mas esqueceu-se de si.