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Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Aos SOFOMANÍACOS

27.11.18

Sofomaníacos.jpg

SOFOMANÍACO: indivíduo estúpido que se acha extremamente inteligente.

Não é de hoje que vemos se espalharem por aí comentários - muitos dos quais baseados em mentiras escandalosas - sobre temas polêmicos soltos a esmo, sem critério científico e analítico algum. Esses comentários (não passam disso) não passam de "opiniões" emitidas por sujeitos que não têm o conhecimento necessário para fazê-las. E o pior: por se basearem em ideologias arraigadas no senso comum, indignam-se quando são contrariados.

Sim, acabo de me deparar com esta palavra, antes desconhecida a mim: SOFOMANÍACO. Não há muito tempo, respondendo a um comentário estúpido que um colega me fez a um dos meus "posts", lhe adverti do problema da construção de seus argumentos, todos eles calçados em pré-conceitos e, portanto, longe do método científico-analítico. Desvinculado, portanto, da realidade. Na ocasião, lhe passei as fontes oficiais de onde tinha tirado as informações, e de onde havia partido minhas reflexões. Pois o sujeito os relegou, preferindo reproduzir um discurso pré-concebido há anos e que julga pronto e acabado para qualquer ocasião. Seja ela em que época for. É, há sofomaníacos de baldes pela Internet. Que pena de eu não ter conhecimento deste léxico vernacular à época; teria economizado linhas.

Esse "achismo" todo, muitas vezes dito de maneira ríspida por pessoas canalhas, é construído quase sempre a partir de juízos de valor e não por uma leitura sincera - a partir de uma perspectiva, seja ela qual for - da realidade. E isso gera comentários estúpidos (no sentido de ignorantes - de não saber mesmo) e insipientes. O triste é ver pessoas honestas respaldando esses argumentos.

Pré-conceitos são oriundos de ideologias que trazemos conosco pela vida e que nos são transmitidas a partir do senso comum. A filosofia as trata como "falsa consciência", "falso conhecimento", justamente por trazerem valores e fatos que não têm lastro na realidade quando analisados de forma crítica, científica, consciente e honesta. E a única forma de superá-las é negando-as. Não no sentido de afirmá-las como erradas "de cara", tampouco no sentido de ignorar sua existência. Pelo contrário! Negar, neste sentido, significa pensar cientificamente, criticamente, para superar algo que está colocado como inconteste. Como fazem os cientistas, que pegam uma determinada teoria anterior, a observam a partir de um olhar diferente e com novos elementos oriundos de outras descobertas, e a superam, sem, contudo, desprezar a anterior. É assim que caminha a humanidade: por meio de negações dialéticas. Conhecer é antes de tudo negar.

Para que criemos novas categorias precisamos negar e não reproduzir fatos como forma de justificar certos valores que portemos conosco e dos quais não queremos nos libertar. Fazer isso é difícil e oneroso? Sim. E muitas vezes, a despeito desse método, comete-se erros. Até mais que acertos. Mas o caminho é esse mesmo. E é gratificante. Há poucos dias postei um excerto de um livro do genial Platão, filósofo idealista grego que viveu há quase 2500 anos. O livro chama-se AS LEIS e o trecho relata todo o ódio que ele trazia contra os filósofos materialistas, a corrente rival. E os argumentos dele, conservadores já para o período, são os mesmos que repetidos hoje pelos conservadores e reacionários: ele acusa os materialistas gregos de ateus que solapam a religião, subvertem a ordem moral existente, fomentam a guerra civil, enganam os jovens e os corrompem. Ou seja, os mesmos argumentos contra os marxistas de hoje. A mesma coisa. A mesma formulação de pensamento, com praticamente as mesmas palavras. Sem a genialidade do excelente filósofo, no entanto. Há mais de 2500 anos. A dialética inexiste nessas cabeças. Ao menos é o que parece.

E isso gera bate-bocas desnecessários, xingamentos, calúnias, mentiras e outras barbaridades. As discordâncias são normais e salutares. O que não é para ser normal e correto são as mentiras fomentadas por certos discursos caducos, que não fazem mais do que gerar confusão nas cabeças honestas, que são muitas. Por isso é importante que tenhamos o mínimo de amor próprio, de dignidade e de vergonha na cara na hora de publicarmos alguma coisa na Internet, mesmo em resposta a um "post".

Não sou obrigado a concordar ou discordar de um texto, de um vídeo, de uma colagem de link remetendo a uma determinada matéria específica. Mas isso não me dá o direito de esbravejar insultos a ninguém, mesmo nos casos em que noto a má intenção do sujeito no "post". Neste caso, o mais sensato seria marcar sua contestação com ideias bem fundamentadas e construir seu discurso embasado não só na(s) teoria(s), mas mantendo os dois pés bem firmes na realidade. Não para convencer o canalha, mas para mostrar a vilania de seu discurso, sua falta de caráter e a ausência de rigor científico no seu método argumentativo. E, nesses casos, o mais sensato seria nem responder à resposta que viria à sua resposta (se ele não apagasse seu "comentário"), pois os imbecis rebaixam seus discursos, distorcem suas palavras, reproduzem preconceitos... Afinal, é a única ferramenta que têm para tentarem se igualar ao debate... E na cabeça deles saem vencedores, mesmo sem saber exatamente o que estão fazendo ou falando.