Ao Papai Noel
Ademar Bogo - Carta de Amor 146 - Ao Papai Noel
Antes de se transformar, o Natal foi uma bela e sincera festa popular. Originou-se no dia em que no Norte do planeta iniciava-se a estação fria. O povo, por duas semanas, fazia a despedida. Sabendo que faltaria comida, muitos poderiam morrer; por isso era preciso festejar e torcer, para que quando o calor voltasse a aparecer, ainda houvesse vida.
Os Romanos em sua cultura homenageavam Saturno, o deus da agricultura. “Saturnália” era o nome da comemoração. Sendo inverno, não havia produção, e, por isso, a terra descansava. Dessa forma, o povo festejava a longa espera, aguardando o despertar da terra, quando de novo o trabalho começava.
No século quarto, o Papa Júlio Primeiro, aproveitou, também por ser festeiro, e unificou a tradição com o Natal. Novidade, nascimento, trabalho, agricultura, ficou tendo por igual o mesmo significado. É tempo de rever o que está errado, modificar as práticas e o comportamento. É sempre um renascimento que deve ser considerado.
Mas Dezembro também, em todos os rincões da terra, o Papai Noel se espera. Deve vir de algum lugar com sua maestria para trazer-nos um pouco de alegria. Seu nome está associado à cortesia, visitas, presentes e fantasias que nos tornam mais fraternos, embora nestes tempos modernos, todas as coisas viram mercadorias.
Mas de onde ele se originou? Quem foi que o inventou e o transformou neste personagem popular? Para tudo o que se inventa, há um lugar e um dia. Esse também, em Myra, hoje Turquia, por volta do ano quatrocentos, nasceu com um senhor, astuto e trabalhador, que dava aos pobres com amor, todos os anos, parte de seus proventos.
Mais tarde por ter marcado tanto, foi declarado santo. São Nicolau, conhecido em todo canto, agora por Papai Noel. Vestia-se de Verde para fazer o seu papel de artista da alegria. Fantasiado ninguém reconhecia quem era o novo pai dos desvalidos. Tornou-se por isso conhecido e até hoje - o ano inteiro - espera-se pelo seu dia.
Aos poucos tudo foi se elitizando. O mercado assumiu o comando, impondo o modo da comemoração. Perdeu-se o sentido da distribuição, da renda, dos lucros e dos ganhos acumulados. Ao contrário, aproveita-se nestes tempos exaltados, para acumular ainda mais. As relações tornaram-se comerciais e os sentimentos foram domesticados.
Para aumentar ainda mais o consumismo, o capital, com seu cinismo, modificou também a sua cor. Para tornar a Coca-Cola um louvor, fez do Papai Noel sua referência. O Vermelho como parte da consciência tingiu o personagem atrativo e o produto, enfadonho e corrosivo, passou dos grandes e dos pequenos o ano inteiro tendo sua preferência.
Mas o Natal ainda é uma festa popular. Temos que comemorar como parte desta herança. Presentear os adultos e as crianças com objetos de nossa cultura. Evitar o plástico e a usura e ajudar a consciência a renascer. Renegar o que nos faz empobrecer nos valores, nas virtudes e na ternura.
Aproveitemos o momento já existente para reencontrar os vizinhos e os parentes e trocar energias positivas. Festejar as conquistas decisivas que tivemos alcançado. Reafirmemos que seguiremos lado a lado no decorrer do ano novo. Afinal, este é um dos poucos momentos onde o povo tem que assumir o seu papel e não ser representado.
Sem fingir nem fantasiar, sejamos o Papai Noel em cada lar. Distribuamos virtudes e valores para derrotarmos os mercadores dos sonhos e objetos. Que cada gesto seja lúcido e concreto para que a terra adormecida se orgulhe de ter-nos como moradores.
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