Experiências do exílio na poesia romântica brasileira
Oh ! Souvenirs ! Printemps ! Aurores !
Victor Hugo
O artigo em questão visa a fazer uma leitura da temática do exílio nas obras Alvoradas (1875), de Lúcio de Mendonça, e Canções do Exílio1, compilada na obra As Primaveras (1859), de Casimiro de Abreu, tendo como premissas as reflexões de dois intelectuais do século XX, Paul Ilie2 e Edward W. Said (2003), que, a seus modos, discutiram a questão do exílio. Bem sei tratar-se de uma tarefa arriscada, principalmente por correr o risco de um anacronismo vulgar, julgando os autores e suas obras a partir de um olhar contemporâneo, ou quase, e tendo como embasamento autores que discutiram a temática sobre um viés distinto àqueles dos poetas citados. Porém, o que me interessa de suas reflexões são a ideia de exílio interior mental – aqui ressignificado –, de Ilie, e a visão de totalidade impressa nas poucas páginas de Said, que aborda a temática do exílio também como uma forma de amor pela terra natal e os laços que os ligam a ela.
Segundo Paul Ilie (1980, Apud Marcélia Guimarães Paiva, 2017), o estado de exílio é uma condição que abarca a totalidade da condição humana, seja ela tingida por matizes territoriais ou íntimos, permeada pela violência ou ensimesmada por escolhas pessoais; seja oriunda de imperativos de expulsão ou desdobrada pela degradação, seja tomada como um sinal de dissidência ou de divergência. O exílio, desse modo, pode ser desencadeado por um deslocamento geográfico, abraçando tanto uma expatriação compulsória quanto uma decidida autonomamente. Compreende-se, ademais, que a noção de pátria aqui implicada transcende o mero limiar de uma nação delimitada, ressoando antes como o âmago do habitat, do lugar de pertença. Não obstante, o banimento pode irromper no seio do grupo social, desdobrando-se em um exílio interior, onde o sujeito pode experimentar o desterro em sua própria terra ou comunidade, em esferas não limitadas pelo espaço geográfico, mas inscritas nas paisagens do próprio eu. Ao encontrar-se apartado por sua não concordância com os valores consagrados pela maioria, esse indivíduo metamorfoseia-se em um exilado, conscientizando-se da discrepância moral e reagindo emocionalmente a ela.
Dessa forma, e ainda segundo o autor, no que concerne ao exílio, há sempre nuances a considerar, pois o ato de exilar-se pressupõe um indivíduo em trânsito, seja ele um deslocamento íntimo, entre lugares, imaginários ou mesmo histórico-sociais (no caso da ficção, por exemplo). A faceta primordial delineada em um poema que retrata uma situação de exílio reside na condição de estar destituído do acolhimento do lar, mergulhado no desassossego do deslocamento, seja ele vivenciado nas fronteiras da terra natal ou além delas. O termo “lar” reverbera em múltiplas conotações: pode evocar o espaço físico da morada, o refúgio protetor, o tecido do convívio social, a entidade nacional ou mesmo um reduto intrínseco aos anais do tempo vivido.
O exílio, em seus matizes filológicos, sociais, econômicos e históricos, reverbera uma panóplia de significados. Na literatura, essa expressão se desdobra em várias dimensões, cada qual com suas nuances e profundidades. Para a composição deste escrito, foi selecionado um corpus poético, um conjunto seleto de poemas cuja produção gravita em torno de um mesmo período temporal e que se erigem como representativos de uma vertente da poesia brasileira que incursiona pelos territórios do exílio. As obras escolhidas têm um hiato de aproximadamente 25 anos e ambas gravitam – em maior ou menor medida – os ideias românticos. Nestas obras, desponta um sentimento de deslocamento temporal, uma atmosfera de destempero, em que a narrativa histórica se desenrola sob um prisma distinto para o exilado e para aqueles que permaneceram. Mais ainda, tais poemas foram eleitos por sua habilidade em transmutar o silêncio e a solidão inerentes ao exílio em um grito poético de resistência. Em alguns deles, observa-se um resgate nostálgico da terra paterna, como no poema No Lar, derradeiro das Canções do Exílio de Casimiro de Abreu.
O exílio, como afirma Said (p.59), baseia-se na existência do amor pela terra natal e nos laços que nos ligam a ela. Assim, o que é verdade para todo exílio não é a perda da pátria e do amor à pátria, mas que a perda é inerente à própria existência de ambos. Em suma, ainda segundo o filósofo palestino (p. 50), em um sentido muito agudo o exílio é uma solidão vivida fora do grupo: a privação sentida por não estar com os outros na habitação comunal. Daí o questionamento de como se superar a solidão do exílio sem cair na linguagem abrangente e latejante do orgulho nacional, dos sentimentos coletivos, das paixões grupais?
Estes os pressupostos básicos com os quais balizaremos nossas reflexões. A partir deles é que iniciaremos uma incursão pelo universo lírico destes dois autores, buscando um diálogo comum (semântico e estético, na medida do possível).
Iniciemos nosso trajeto pelo Livro Primeiro – por mim denominado Canções do Exílio – da obra As Primaveras, compilado poético de Casimiro de Abreu, publicado em 1859, um ano antes da sua morte prematura. O livro inicia pelo poema A***, em que o eu lírico se dirige a uma musa idealizada, personificação de seus sonhos mais profundos e puramente românticos. É uma espécie de despedida saudosista – ou mesmo uma dedicatória – daquele que deixa para trás a musa por ele enaltecida, fonte de sua criatividade e de seus mais fervorosos desejos. O poema é um testemunho da devoção do eu lírico a sua musa e à idealização do amor romântico. É uma ode à beleza, à inspiração e à esperança que a musa representa, mesmo diante das vicissitudes da vida. Casimiro de Abreu retrata o amor como uma força poderosa e redentora, capaz de transcender as limitações do tempo e da realidade mundana.
Canção do Exílio, segundo desta obra, é um poema que expressa profundos sentimentos de saudade e nostalgia pela terra natal, enquanto o eu lírico se encontra exilado em um lugar distante. O poema inicia com uma afirmação da origem estrangeira do eu lírico, ressaltando a distância física e emocional que o separa de sua pátria. Ele descreve de maneira poética as belezas naturais e características singulares de sua terra natal (no caso o Brasil), destacando a saudade que sente dos lares, amores, cantos dos pássaros e paisagens que deixou para trás. Por meio de imagens sensoriais e líricas, o eu lírico evoca a memória afetiva dos lugares e elementos que compõem a sua terra natal, como as montanhas, campos, céu azul, selvas, luz e galas. A repetição da expressão “Oh! que saudades tamanhas” enfatiza a intensidade do sentimento de nostalgia que permeia o poema.
Ainda referente ao poema, é pertinente afirmar que o eu lírico expressa um profundo amor e ligação com sua pátria, manifestando o desejo ardente de retornar ao seu país, as suas raízes e a sua cultura. Ele se compara à ave dos palmares, que foge do caçador, sugerindo uma sensação de desamparo e solidão no exílio. A metáfora da ave dos palmares fugindo do caçador é utilizada para transmitir a sensação de vulnerabilidade e solidão do poeta no exílio, sem o amparo e o afeto do seu lugar de origem. A ausência da luz do lar paterno é destacada como uma lacuna emocional na vida do narrador, revelando a dor e a angústia causadas pela separação de sua terra natal. A última estrofe do poema reforça o anseio pela volta à pátria, ressaltando a esperança de um reencontro com a “terra que o gerou” em sua eterna primavera. Em suma, “Canção do Exílio” é uma ode à pátria perdida, uma expressão poética da saudade e do desejo de pertencimento que permeiam a experiência do exílio. É igualmente um hino à nostalgia e ao amor pela terra natal, como deixa claro a epígrafe de Chateaubriand: Oh, mon pays sera mes amour Toujours.
O poema seguinte, intitulado Minha terra é dedicado a Gonçalves Dias, autor de versos muito consagrados da língua portuguesa, como o seu Canção do Exílio, seguindo a mesma lógica que a do poema do poeta maranhense, descrevendo o eu lírico, ao longo do poema, com admiração e nostalgia, as diversas belezas naturais, culturais e históricas do país: (...) Correi pr’as bandas do sul / Debaixo dum céu de anil / Encontrareis o gigante / Santa Cruz hoje Brasil; / – É uma terra de amores / Alcatifada de flores / Onde a brisa fala amores / Nas belas tardes de Abril. // Tem tantas belezas, tantas, / A minha terra natal, / Que nem as sonha um poeta / E nem as canta um mortal! / – É uma terra encantada / – Mimoso jardim de fada – / – Do mundo todo invejada, / Que o mundo não tem igual (...).
A comparação entre a terra distante e a terra natal – a exemplo da Canção do Exílio – reforçam não somente a conexão com o romantismo de Gonçalves Dias, mas igualmente com o poema que o precede: o Brasil é descrito como uma terra abençoada, com suas vastas paisagens, desde serras gigantes até bosques verdejantes. O eu lírico faz referência a elementos típicos da flora brasileira, como as açucenas, as palmeiras e as mangueiras, além de mencionar a fauna local, como o sabiá e o gaturamo.
Outro poema que merece destaque é Minha Mãe, justamente por significar uma ode emocionante à figura materna e à saudade que o autor sente por sua mãe enquanto está longe de sua terra natal (Da pátria formosa distante e saudoso, / Chorando e gemendo meus cantos de dor, / Eu guardo no peito a imagem querida / Do mais verdadeiro, do mais santo amor: / — Minha Mãe! —). O poeta expressa sua dor e sua nostalgia através de uma série de imagens e memórias vívidas. A primeira estrofe estabelece o tom do poema, com o eu lírico lamentando a separação de sua mãe e de sua pátria, enquanto guarda no peito o amor verdadeiro e sagrado que sente por ela. Em seguida, o poeta descreve momentos específicos de sua infância e juventude, nos quais a presença e os cuidados de sua mãe eram fundamentais: relembra as noites quentes de verão, quando se encontrava sozinho, lamentando-se pela ausência materna e pelo afastamento. Cada estrofe evoca memórias específicas, desde os dias de infância, quando era embalado nos ramos floridos do berço ao som de cantigas maternas, até as noites tranquilas em que sua mãe, como um anjo guardião, roçava seus lábios dormentes, enchendo seus sonhos de ternura e proteção. Por fim, o poeta revela sua angústia ao se encontrar exilado, sentado sozinho e solitário, suspirando e soluçando pela voz que o chamava de “filho querido do meu coração”, sua mãe (Por isso eu agora na terra do exílio, / Sentado sozinho co’a face na mão, / Suspiro e soluço por quem me chamava: / — “Oh filho querido do meu coração!” — / — Minha Mãe! —).
E para concluir este conjunto de poemas de Casimiro de Abreu, cuja análise se revela essencial para a apreensão dos elementos anteriormente abordados, apresento um complemento ao poema inicial, que, sob essa perspectiva, sinaliza a incursão no exílio. Opto por reproduzir a primeira parte do poema na íntegra – um decassílabo composto por treze quadras – não somente para demonstrar a beleza de seus versos, mas, sobretudo, para ampliar a argumentação. Importa ressaltar que, não obstante a temática, este poema não representa o desfecho do Livro Primeiro das “As Primaveras”, de Abreu. No lar encontra-se localizado entre o meio e o fim da obra. A partir deste ponto, os poemas adquirem uma tonalidade mais memorialista e menos melancólica, como em Deus!. A saudade, mesmo quando palpável, adquire matizes mais suaves, enquanto a narrativa, quando voltada para o passado, evoca episódios históricos, como se observa nos versos do poema Sete de setembro.
É como se o eu lírico, livre dos grilhões que o trancafiavam em terras estranhas, cantasse seus versos em terras suas, porém apartado daquele sentimento de pertencimento de outrora. Demasiado tempo no exílio o mutilara. Essa confluência de sentimentos e sentidos difusos por vezes parecem trazer, pelo eu lírico, (ao leitor) certa confusão em relação ao próprio tempo em que se passa a narrativa, como em Moreninha, por exemplo, ou então o leva a narrar, de maneira afastada, os versos que canta, como em Bálsamo.
NO LAR I Longe da pátria, sob um céu diverso No mar — de noite — solitário e triste Era pátria e família e vida e tudo, Eis-me na pátria, no país das flores, Eis meu lar, minha casa, meus amores, Os mesmos campos que eu deixei criança, | Foi aqui, foi ali, além... mais longe, Acho agora mais seca a cachoeira Como eu me lembro dos meus dias puros! Eu me remoço recordando a infância, É a casa!.. as salas, estes móveis... tudo, E ali... naquele canto... o berço armado! Oh! primavera! oh! minha mãe querida! |
A primeira parte do poema No lar retrata a intensa nostalgia e emoção do eu lírico ao retornar à sua pátria após um período de ausência. O poeta descreve sua jornada distante da terra natal, sob um céu estranho onde o sol não arde com a mesma intensidade, mas onde suas saudades pelo lar querido persistem como um suspiro de uma ave sem ninho ao entardecer. A solidão e a tristeza no mar durante a noite são contrastadas com os sonhos fervorosos e exuberantes que preenchem sua alma, permitindo-lhe encontrar consolo na visão dos campos que seus olhos alcançam.
Ao retornar à sua terra, o eu lírico se reconecta com suas raízes e suas memórias mais preciosas. Ele revisita sua casa, seus amores, seus lugares familiares e seus espaços de infância. A descrição detalhada dos campos, das árvores e do rio onde o amor nasceu e cresceu com ele evoca uma sensação de renascimento e pertencimento. Cada elemento do ambiente parece falar-lhe sobre sua doce idade passada, fazendo-o reviver sua infância com uma intensidade avassaladora.
A contemplação da casa, das salas e dos móveis, assim como dos objetos familiares, como o crucifixo e o quarto do oratório, desperta uma torrente de recordações vívidas. O poeta se lembra com carinho dos momentos compartilhados com sua mãe e sua irmã, evocando a figura materna, a presença acolhedora do lar e a inocência da infância. A primavera, símbolo de renovação e beleza, é associada à mãe e à irmã, seres queridos que ele anseia reencontrar, expressando seu desejo ardente de retornar aos dias de pureza e felicidade vividos no seio da família.
Como se observou, partindo-se das reflexões de Paul Ilie (1980, Apud Marcélia Guimarães Paiva, 2017), os versos de Casimiro de Abreu contemplam o exílio, revelando-se como um vasto espectro que permeia a complexidade da condição humana, esta enriquecida por nuances territoriais e íntimas e imersas em reflexões profundas de escolhas pessoais. Oriundo ou não da uma expulsão ou das vicissitudes da degradação, o exílio, nos versos de Abreu, é desencadeado por deslocamentos geográficos, abraçando tanto a expatriação compulsória quanto a busca autodeterminada por autonomia. O eu lírico, em seus versos, sofre a perda nascida do afastamento de sua pátria e de seus entes e memórias mais íntimos. Todavia, em seus versos, a concepção de pátria transcende ela mesma os limites estreitos de uma nação delimitada, ressoando profundamente como o cerne do habitat, o locus de pertencimento essencial. Essas características do exílio vão mais além, podendo também penetrar o seio do grupo social, desdobrando-se em um desterro interior, no qual o indivíduo se encontra deslocado em sua própria terra, como atento para os poemas após No lar. Imerso em esferas que ultrapassam o confinamento do espaço geográfico e se inserem nas paisagens do seu interior, o eu poético reage emocionalmente a essa condição de exilado, experimentando e sentido o exílio por meio de suas memórias e lembranças.
Dessa forma, os poemas escolhidos delineiam uma faceta fundamental que ilustra a experiência do exílio, caracterizada pela ausência do aconchego do lar e pela imersão na inquietação do deslocamento, seja ele experimentado nas fronteiras da terra natal ou para além delas. O próprio conceito de “lar”, como já explanado, reverbera com uma plêiade de significados, podendo evocar não apenas o espaço tangível da habitação, mas também o santuário acolhedor, o intricado tecido das interações sociais, a identidade nacional ou mesmo um enclave intrínseco aos registros da vivência temporal.
É correto afirmar também, com base no exposto, que as “canções primaveris do exílio” comungam daquelas reflexões que anos mais tarde faria Edward Said (p.59), “na existência do amor pela terra natal e nos laços que nos ligam a ela. Assim, o que é verdade para todo exílio não é a perda da pátria e do amor à pátria, mas que a perda é inerente à própria existência de ambos”. E que (p.50), de uma forma muito intensa, o exílio (desterro) é uma solidão experimentada fora do coletivo: a falta percebida por não estar junto aos demais na residência comunitária. E isso fica relativamente claro nos versos mais famosos – e talvez mais belos – de Casimiro de Abreu: Oh! que saudades que tenho / Da aurora da minha vida, / Da minha infância querida / Que os anos não trazem mais! / Que amor, que sonhos, que flores, / Naquelas tardes fagueiras / À sombra das bananeiras, / Debaixo dos laranjais! (…)
Este o quadro semântico desenhado a partir da leitura do Livro Primeiro de Casimiro de Abreu, poeta que, após sua prematura morte, causou grande frisson no Brasil e em Portugal, sendo lido por gerações. Cumprida essa primeira tarefa, partamos agora para a abordagem crítica de alguns poemas de Alvoradas, de Lúcio de Mendonça, obra publicada 26 anos após As Primaveras. Esse movimento, contudo, não será feito tendo como premissa uma mera comparação temática entre ambos os poetas, mas buscará compreender possíveis aproximações estéticas entre os autores – principalmente por parte de Lúcio de Mendonça a Casimiro de Abreu.
Publicado em 1875, Alvoradas é o segundo livro de poemas de Lúcio de Mendonça, lançado três anos após Névoas Matutinas, seu livro de estreia prefaciado por Machado de Assis. O título, que a priori lembra o crepúsculo matutino, o alvorecer, a claridade que precede o romper do sol, deriva-se de uma proposta inversa, logo explicada pelo autor em um pequeno prólogo que precede os poemas: os versos ali escritos, intitulados Alvoradas, carecem tanto da luminescência quanto das harmonias do despontar da manhã; assemelham-se às madrugadas pluviosas, desoladas, silenciosas e monótonas.
O título escolhido para esta coleção de versos não é novo. Depois de já o haver adotado, mesmo por guardar tal ou qual relação com o do meu primeiro livro, Névoas Matutinas, li a notícia de um volume de poesias com o mesmo título de Alvoradas; quis, desde então, batizar diversamente o meu livro; não mo consentiram alguns amigos, a cujo delicado empenho tive de ceder. Estas cousas, tão pouco interessantes, digo-as somente para me desculpar do aparente delito de me haver apropriado de um pensamento alheio.
Alvoradas chamam-se estes versos, que nem têm a luz nem as harmonias do amanhecer... Serão como as madrugadas chuvosas, — desconsoladas, mudas e monótonas.
Alvoradas são também os toques militares com que se despertam do sono os soldados... Não poderão chamar-se assim os clamores da minha poesia, obscura sentinela republicana, bradando aos soldados da causa santa que é tempo de acordar? (MENDONÇA, 1902, p.55-56)
Este breve introito é muito importante. E por dois aspectos: o primeiro e mais óbvio é por situar o leitor acerca do escopo da obra; o segundo, um tanto mais sutil, demonstra a evolução do artista em relação ao seu livro de estreia, de cunho mais nacionalista, ao gosto dos românticos brasileiros. É que, dentre outras coisas, em Alvoradas já fica claro – em alguns poemas – o “baixo contínuo de um socialismo hugoano” predominante na sua obra seguinte, Vergastas, publicada em 1889, como veremos a seguir. Além disso, a temática do exílio – como veremos – também tem significativo espaço, desdobrando-se ainda na condição marginal do escritor, cuja postura, no entanto, difere da consagrada pelo romantismo, em que ele se envaidecia do desacordo deliberado com a sociedade. Em suma, em Alvoradas a temática do exílio difere substancialmente, tanto em essência quanto em manifestação, daquela contemplada em Casimiro de Abreu. Em Lúcio de Mendonça, o exílio é transcendido por meio de uma concepção mais afinada àquela delineada por Paul Ilie, principalmente no que tange ao exílio interior, evidentemente que com uma perspectiva e matiz distintos no poeta de Vergastas.
Avancemos portanto à leitura de alguns poemas da obra escolhida. Iniciemos com o poema A Tarde, que inicia descrevendo a cena do poente, onde a fogueira arde e um torpor suave e lento se instala, criando uma atmosfera de transição entre o dia e a noite. Ao longo do poema, a voz poética evoca uma sensação de tristeza monótona da tarde, em que os contornos se esbatem e as paixões se tornam calmas, como se os sentimentos fossem suavizados pela luz do entardecer. Essa melancolia é acompanhada pela busca dos pensamentos por um “pouso” no saudoso ambiente das memórias da infância e das figuras maternas. O eu lírico utiliza imagens da natureza, como os pássaros voando molemente em busca de repouso nos ninhos, visando a ilustrar os movimentos sutis e serenos da alma em busca de conforto e tranquilidade emocional. O poeta referencia emoções pessoais e afetivas, mencionando a “esposa de nossa alma” e a figura materna, simbolizando a segurança e o afeto associados à família e às memórias da infância, concluindo com uma expressão intensa de saudade e lembrança na qual o eu lírico se recorda da pessoa amada com profunda emotividade e encerrando a reflexão sobre o entardecer com uma nota de melancolia e nostalgia.
O poema O Lenço Branco (p.77) retrata, de forma nostálgica e melancólica, a memória de um amor perdido, evocando sentimentos de saudade e despedida. Desde os primeiros versos o poema estabelece uma atmosfera de nostalgia ao relembrar dos tempos passados e de uma amada, Aninha, associada à vida rural (“pérola roceira”), que agora está distante, adaptada ao bulício urbano. O lenço branco emerge como fulcro do poema, representando a ligação emocional entre o eu lírico e Aninha. Ele se erige como um artefato de partida e lembrança, portando os afetos do eu poético, mesmo após a ruptura e desencadeando uma dor que reverbera em cada estrofe, impregnada pela saudade e melancolia que permeiam todo o poema. O eu lírico relembra os momentos felizes compartilhados com Aninha e lamenta a distância que agora os separa. Todavia, apesar da passagem do tempo e das mutações operadas, o ardor do eu lírico por Aninha se preserva, imperturbável e vigoroso. O lenço branco emerge como um emblema tangível deste sentimento perene. O poema insinua que a vida na cidade pode eclipsar ou, quiçá, aniquilar os sentimentos genuínos e singelos, personificados pela figura de Aninha e pelo lenço branco. A cidade é, portanto, pintada como um ambiente que corrompe e aliena os indivíduos de suas raízes e emoções autênticas.
Vejamos que, se no primeiro poema o eu lírico expressa um exílio de cunho mais interior (Quando a fogueira do poente arde / E começa um torpor suave e lento, / Embebe-se também o pensamento / Na tristeza monótona da tarde. (...) Branda melancolia nos invade / Com a doçura de um bálsamo divino... / Ó dona de minh’alma e meu destino, / Eu lembro-me de ti... com que saudade!), neste último a ausência do ente querido é manifestada por deslocamentos geográfico e temporal (Lembras-te, Aninha, pérola roceira / Hoje engastada no ouro da cidade, / Lembras-te ainda, ó bela companheira, / Dos velhos tempos da primeira idade?). Ou seja, se naquele a persona poética exprime-se de maneira afastada, embora presente, encastelando-se, exilando-se do mundo que a cerca, em O Lenço Branco o exílio é alicerçado a partir de outras variações, como na da ausência da pessoa amada e no distanciamento provocado não somente por esta falta, mas principalmente em decorrência de seu deslocamento. É, até certo ponto, o inverso daquilo que defende Edward W. Said: não se trata aqui do amor à pátria, vista e cantada a distância, mas da amada que partiu, deixando-o ilhado e exilado em sua própria terra natal.
Seguindo a lógica na qual o eu lírico sofre os pesares do exílio internamente, o poema A Família (p.80) é emblemático, pois reflete sobre a solidão e o vazio existencial de um indivíduo diante da ausência de afeto e pertencimento, contrastando-o com a imagem reconfortante e acolhedora de uma família unida.
A FAMÍLIA Riquíssimo e, coitado! órfão quase ao nascer, Que nem uma esperança e nem uma saudade Vem a noite a cair... que cerrado nevoeiro! | Partiu. Pelo caminho, olhava para os lados. Era elegante a sala, e quente e confortada. O moço esteve a olhar. |
O eu lírico retrata um protagonista solitário e desesperançoso, que considera a morte como a única saída para o seu sofrimento. A falta de esperança e de saudade o impulsiona para o abismo da inexistência. A descrição detalhada da cena familiar transmite uma sensação de calor humano, amor e segurança, em contraposição ao vazio e à desolação da protagonista, o que desperta nela um desejo intenso de pertencer a algo semelhante. A cena da família se torna um símbolo de conforto e de afeto, um refúgio desejado. Ao final do poema, a protagonista decide voltar atrás em sua decisão de se entregar à morte, influenciado pela visão reconfortante da família inalcançável, mas que representa um porto seguro, um refúgio de amor e proteção e que a faz reconsiderar seu destino trágico. De forma concisa, o poema A Família configura-se como uma obra poética que mergulha profundamente na dualidade entre o isolamento intrínseco e o anelo por conexão, delineando meticulosamente a contraposição entre a melancolia do protagonista poético e a visão acolhedora de uma família harmoniosa, ressaltando primordialmente a essencialidade do afeto e da coesão familiar como um “remédio” eficaz contra a solidão, o exílio interior e a desolação da condição humana.
Outro poema interessante e que lança mais luz ao problema é A Volta (p.87), que disserta – com boas doses de nostalgia e com muita reflexão – o regresso do eu lírico a sua aldeia natal. Neste retorno, ele encontra uma paisagem intocada pelo tempo, um cenário imutável que ressalta a sensação de familiaridade e continuidade. As brisas no arvoredo, as nuvens no céu, os grilos no terreiro e os vaga-lumes no ervaçal são destacados, evocando memórias da infância e juventude e reforçando a ligação emocional do eu lírico com seu lugar de origem. No entanto, mesmo diante dessa aparente estabilidade, o eu lírico percebe uma transformação interna: embora as formas físicas permaneçam as mesmas, ele reconhece uma mudança no seu eu interior. Essa percepção traz consigo uma sensação de nostalgia e melancolia, uma lamentação pela perda do passado e dos sonhos que o encantavam na juventude. Contudo, o poema também sugere uma aceitação dessa mudança e da inexorabilidade do tempo. O eu lírico compreende que a vida é feita de transformações e que é preciso se adaptar a essa realidade em constante evolução. Em suma, o eu poético evoca sentimentos de nostalgia, melancolia e reflexão diante do retorno à terra natal, explorando a dualidade entre a imutabilidade da natureza e a mutabilidade interior do ser humano (É tudo o mesmo. No arvoredo ao lado / Inda as brisas murmuram como d’antes; / Inda no céu da tarde avermelhado / Grupam-se as mesmas nuvens cambiantes. (…) Nada mudou aqui... Só eu que venho / É que o mesmo não sou! / Ai! não sou, não! somente as formas tenho / De um outro que sonhava, e que acabou!), transmitindo uma sensação de perda e aceitação diante do inexorável passar do tempo.
Percebamos o tom de isolamento, de exílio interior do eu lírico, que se depara com a paisagem idêntica àquela de suas memórias, mas que não consegue se reconectar completamente à terra, ao menos aquela de suas lembranças. Este é um “poema de retorno”, qual No lar, de Casimiro – analisado há pouco neste espaço. Lembremos que neste o eu lírico também se reconecta com suas origens e as memórias mais preciosas. Qual o poema de Lúcio de Mendonça, o de Casimiro de Abreu preza pela descrição minuciosa dos campos, das árvores e do rio onde o amor surgiu e se desenvolveu junto a ele. Cada aspecto do ambiente parece sussurrar-lhe sobre sua juventude, levando-o a reviver sua infância com uma intensidade avassaladora. Eis um ponto interessante de convergência entre os poemas: a mesma essência poética, a mesma temática, soluções semelhantes. Mas há outros: a exemplo de No lar, A volta também é um decassilábico com alguns versos sáficos e heroicos.
Note, contudo, que não falo de influência direta; não afirmo que Lúcio de Mendonça tenha reescrito esses e talvez outros versos sensibilizado pelos de Casimiro de Abreu. A simples escolha do corpus não nos qualificaria a levantar tamanha afirmação: para se comprovar tal hipótese seriam necessários agregar outros elementos à análise, como a escansão poética, os recursos estilísticos utilizados, a escolha lexical, o ritmo, dentre outros elementos. O que levantamos, por enquanto, é esta aproximação a partir de um constituinte comum, o exílio, talvez uma tendência de época, principalmente se levarmos em conta que, no período próximo, não foram os únicos a explorar esse tema: em maior ou em menor grau, outros o fizeram, como o maranhense Gonçalves Dias e o carioca Guimarães Júnior, dentre outros. Isso no campo da poesia, obviamente.
Mas avancemos, pois há-se ainda a fazer. E, para concluirmos a leitura mais detalhada de alguns poemas de Alvoradas, finalizemos com o belo Cavalheiro do luar (p.92), que retrata uma série de eventos que ocorrem em uma noite de lua cheia, todos conectados por uma atmosfera de mistério e tragédia. Na estrofe inicial, o eu lírico nos apresenta a figura de Júlia, à janela, mergulhada na beleza da noite resplandecida pela lua e envolta em um “encanto amoroso” que paira no ar (Estava Júlia, à noite, na janela, / Numa noite lindíssima de lua, / Embevecida no amoroso encanto / Que no ambiente mágico flutua.). Nesse cenário romântico, um estranho rapaz passa pela rua, parecendo belo à luz da lua. Na estrofe subsequente, a atmosfera sofre súbita transformação: agora é noite de festividades no castelo e Júlia se encontra com seu noivo, confinada à janela em íntimo momento; novamente, o misterioso jovem passa pela rua, mas desta vez sua expressão é triste e sombria. A noite se veste de luto no castelo, e Júlia repousa inerte em seu leito, enquanto seu noivo lamenta sua perda. Mais uma vez, o estranho moço percorre a rua, porém sua figura agora se mostra pálida sob a à luz do luar. O poema sugere uma conexão entre a presença do rapaz e os eventos que se desenrolam no castelo: sua passagem pela rua em diferentes momentos da história de Júlia e seu noivo cria um clima de mistério e prenuncia a tragédia que se desvela. A lua cheia emerge como símbolo de metamorfose e revelação, iluminando tanto os momentos de júbilo quanto de desalento. A recorrência da expressão “Então, como num sonho” sugere a sensação de irrealidade e inexorabilidade dos eventos que se desdobram.
Mais um poema em que o exílio se desenvolve a partir das emoções das personagens. No caso específico, a partir da confluência psicológica de uma personagem: o estranho cavalheiro, o “estrangeiro” que perpassa – deslocado – toda a trama poética nos momentos mais relevantes da narrativa, até seu desfecho trágico (Era noite de luto no castelo, / Uma noite lindíssima de lua. / Estava Júlia morta no seu leito, / Velava o noivo na amargura crua. // Então, como num sonho. / Embaixo pela rua, / Passava estranho moço, / Alvo ao clarão da lua.).
Note que há um afastamento do eu lírico, que acompanha de longe a cena. Envolto aos acontecimentos centrais, o misterioso transeunte parece pressagiar a tragédia que envolveria a família, agindo como uma espécie de espectador protagonista. Presente, porém concomitantemente ausente, exilado em seus sentimentos, o desconhecido rapaz trafega solitário, à margem, alternando seu humor à medida em que os acontecimentos se desenrolam. O título do poema – O Cavalheiro do Luar – parece sugerir essas mudanças e como elas determinam também o futuro das personagens envolvidas. Lembremos que a lua influencia o desenvolvimento e o crescimento das plantas, o movimento das marés e dos fluidos corporais, o ciclo menstrual, a concepção, geração e nascimento do todos os seres vivos etc. Contudo, toda essa influência sobre a vivência em nosso planeta se dá por questões físicas (a gravidade) e não por uma intervenção ativa direta e intencional. Alheia ao planeta, a não ser pela órbita presa à terra, a lua interfere no cotidiano da vida planetária, exilada há aproximadamente 384 mil quilômetros de distância.
Qual o astro que nos circunda, o misterioso cavalheiro do luar parece também interferir diretamente na narrativa, na medida em que está presente em todos os seus momentos decisivos. Todavia, a meu ver, seu exílio não se dá somente pelo distanciamento em que presencia os fatos, ou que interfere neles, se preferirmos; adquire também outro caráter, mais interior, como se estivesse imerso na própria essência da atmosfera circundante, sendo não somente uma personagem ativa, mas igualmente passiva, que sofre as alegrias e tristezas da protagonista Júlia e sua família.
Estas as conclusões extraídas a partir da leitura desta elegia. São vários, no entanto, os poemas, em Alvoradas, que exploram a temática do exílio, além dos já expostos: A Insensível (p.62), O Adeus (p.75), Sic Fata (p.82), A minha luz (p.102), Pelo rio (p.103). Todos mereceriam uma abordagem mais detalhada, no entanto escolhemos apenas alguns para não estendermos em demasia a argumentação. Da mesma forma, há também, nesta obra, uma incursão pelos poemas sociais, a exemplo de Vergastas, obra seguinte. Dentre os poemas que abordam esta temática, podemos citar pelo menos três: Duas noites (p.86), A volta (p.87), Nuda Anima (p.95).
O exílio é uma experiência humana profunda e multifacetada, frequentemente retratada na literatura como um estado de deslocamento físico, emocional ou espiritual. Autores ao longo dos séculos exploraram essa temática, revelando suas complexidades e nuances. Desde os épicos da antiguidade até as obras contemporâneas, o exílio tem sido retratado como uma jornada de perda, busca e transformação. Personagens exilados frequentemente confrontam a solidão, a alienação e a saudade de sua terra natal, enfrentando desafios existenciais que os levam a questionar sua identidade e seu lugar no mundo.
Os poetas aqui trabalhados representam apenas um pequeno fragmento deste vasto mosaico, cuja profundidade demandaria uma diligência mais acurada. Tanto Casimiro de Abreu, quanto Lúcio de Mendonça – cada um a seu modo – explorou esta temática, arraigada desde tempos imemoriais no cânone literário universal. Ambos se inscrevem nesta tradição que, na literatura brasileira, ganhou força no século XIX e se consolidou no século seguinte, se estendendo até a contemporaneidade. De Gonçalves Dias a Maria Salomão Carrara, trilhando o caminho delineado por Guimarães Júnior, Castro Alves, Cruz e Sousa, Cecília Meireles, João Cabral de Melo Neto, entre tantos outros (sem mencionar os escritores que se embrenharam nas intricadas questões das diásporas decorrentes dos embates do capitalismo), o tema do exílio se revela como um fio condutor perene na narrativa literária no / do Brasil.
Se este trabalho ajudar a enriquecer o debate e a lançar um olhar diferente sobre a questão, terá já superado seus objetivos, mesmo porque, trabalhar com dois poetas tão pouco explorados acaba sendo um desafio na mesma medida que um privilégio: a escassez de análises críticas, se por um lado facilita uma delimitação analítica, por outro, obstrui o labor, pois iluminar um caminho escuro com um pequeno candeeiro pode causar um acidente, provocar diversos tropeços. Entretanto, malgrado os obstáculos e os prazeres inerentes ao trabalho, julgo ter contribuído para o conhecimento destes dois poetas, diminutos se os pensarmos a partir do cânone literário. Principalmente Lúcio de Mendonça, cuja obra – ao menos da minha perspectiva – ostenta um vigor poético inferior ao do Casimiro de Abreu, “o maior poeta dos modos menores que o nosso Romantismo teve. [Pois] Nele, o lirismo é pura expressão da sensibilidade, desligada de qualquer pretensão mais afoita” (CANDIDO, p.194).
Em suma, ao percorrer as veredas do exílio na poesia brasileira do século XIX a partir destes dois “bardos românticos”, pode-se vislumbrar não apenas um tema recorrente, mas um reflexo das inquietudes e das experiências humanas a partir de uma égide romântica. Desde os belos versos de Casimiro de Abreu até a melancolia reflexiva de Lúcio de Mendonça, a temática do exílio revela-se como um espelho da condição humana em sua busca por identidade, pertencimento e sentido de lugar. Nesse contexto, a poesia se ergue como uma voz de resistência, expressando os anseios e as angústias daqueles que, por força das circunstâncias, se viram desterrados de suas pátrias. Ao encerrar este estudo, é imperativo reconhecer a riqueza e a complexidade desse tema, que continua a ressoar através das eras, convidando-nos à reflexão sobre as fronteiras físicas e emocionais que moldam nossa existência. Assim, que este trabalho possa nos instigar a continuar explorando as profundezas do exílio e suas reverberações na tessitura da condição humana. Dessa maneira, e com essas palavras, finalizo este escrito.
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Referências
ABREU. Casimiro. As Primaveras. In: 50 obras-primas da Literatura Brasileira (vários autores). Edição digital. São Paulo: Booklyn Media, 2021.
AMORA, Antônio Soares. Casimiro de Abreu. In: O Romantismo (vol. II): 1833-1838 / 1878-1881) 3.ed. São Paulo: Cultrix, p.161-174.
CANDIDO, Antonio. O Belo doce e meigo: Casimiro de Abreu. In Formação da Literatura Brasileira (vol. 2 - 1836-1880) – momentos decisivos. 6.ed. Belo Horizonte: Itatiaia, p.194-200.
MACHADO, Ubiratan. Apresentação. In: MENDONÇA, Lúcio. O Marido da Adúltera. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2009, p.VII-XII.
MENDONÇA, Lúcio de. Névoas Matutinas. In: Murmúrios e Clamores (poesia completa). sd. Rio de Janeiro: Garnier Editores, 1902.
___________________. Alvoradas. In: Murmúrios e Clamores (poesia completa). sd. Rio de Janeiro: Garnier Editores, 1902.
OLIVEIRA, Ilca Vieira de. Castro Alves e Cecília Meireles: a África como espaço de exílio e da liberdade. 7o CONGRESSO DE ESTUDOS AFRICANOS, 2010, Lisboa. Disponível em: https://repositorio.iscte-iul.pt/bitstream/10071/2314/1/CIEA7_18_OLIVEIRA_Castro%20Alves%20e%20Cec%C3%ADlia%20Meireles.pdf. Acesso em: 01/02/2024.
PAIVA, Marcélia Guimarães. Os caminhos e os sentidos do exílio na poesia brasileira: algumas considerações. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 21, n. 42, p. 35-55, 2º sem. 2017.
SAID, Edward. Reflexões sobre o exílio. In: Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. p.46-60.
STEGAGNO-Picchio, Luciana. A poesia do parnaso ao crepúsculo: realistas e parnasianos. História de Literatura Brasileira. 2.ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2004, p.299-319.
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Notas:
1Denomino assim o livro Primeiro de As Primaveras, compêndio das poesias completas de Casimiro de Abreu. E o motivo que o faço deve-se ao fato de todo este livro tratar do tema do exílio.
2Literature and Inner Exile: Authoritarian Spain, 1939-1975 é um livro publicado em 1980 que explora a relação entre a literatura e o conceito de exílio interior durante o período autoritário na Espanha. Escrito por Paul Ilie, o livro investiga como os escritores espanhóis responderam e se adaptaram ao ambiente repressivo e autoritário estabelecido durante o regime franquista. Durante esse período, muitos escritores e intelectuais espanhóis enfrentaram a censura e a perseguição política devido as suas obras e ideias. O conceito de exílio interior refere-se à condição de estar fisicamente presente em seu próprio país, mas sentir-se exilado devido à impossibilidade de expressar livremente suas opiniões e ideias, muitas vezes vivendo em um estado de alienação e isolamento. O livro examina como os escritores espanhóis lidaram com essa situação, como eles encontraram maneiras de expressar sua dissidência e resistência por meio da literatura, e como sua obra reflete as tensões e os dilemas morais enfrentados durante esse período sombrio da história espanhola.