Edson Arantes se foi, Pelé é Eterno!
Um dia chegaria esse momento. Inevitável. Todos sabíamos que um dia nos despediríamos dele. E mesmo que estivéssemos preparados, ou que estivéssemos nos preparando, não tínhamos ideia que seria bastante doloroso. Quinta-feira triste para todos(as) os(as) amantes do futebol.
Nascido em Três Corações, estado de Minas Gerais, em outubro de 1940, ainda pequeno foi para a cidade de Bauru, interior do estado vizinho, São Paulo. Aos 15 anos foi para o Santos, equipe em que ele ajudou a engrandecer - junto com seus companheiros - e que lhe deu fama.
Futebol é um esporte coletivo e seria muito injusto consagrar somente a Pelé o sucesso de uma equipe que era um verdadeiro esquadrão. Quem nunca ouviu falar do quinteto Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, o ataque de 3 mil gols? Quem não conhece o Santos Futebol Clube, o clube de futebol mais famoso de todo o planeta?
Pelé marcou 1282 gols em 1300 e tantos jogos oficiais, uma marca de 0,93 gol por jogo. Jogou em gramados de péssima qualidade comparados aos de hoje e com bolas longe dessa tecnologia toda, uniformes pesados e quentes. Pelé é completo: ambidestro, cabeceador nato, driblador inteligente, forte e um atleta muito resistente e veloz: percorria com a bola nos pés 100 metros em 11 segundos. Um espanto! Com Garrinha formou a dupla mais vitoriosa da história do futebol de seleções: enquanto estiveram os dois em campo, a seleção nunca perdeu um único jogo sequer. E foram vários jogos: 40 em um pouco mais de 8 anos, para ser mais exato, com 36 vitórias e 4 empates.
Pelé foi único. E não somente pela sua qualidade. Em um país acostumado com grandes craques, há muitas dúvidas em sua superioridade técnica em relação ao seu parceiro Garrincha, outro gênio da bola (pela esquerda havia o canhoteiro, ponta esquerda do São Paulo). Mas Pelé o transcende, senão pela qualidade técnica (acho o Garrincha mais genuíno, mais espontêneo, menos atleta no sentido de cuidar de sua carreira), pela sua importância no futebol. E isso é inegável e o repetir é "chover no molhado", como cá dizemos.
Em um país que teve Leônidas da Silva, Ademir de Menezes, Ademir da Guia, Didi, Canhoteiro, Vavá, Pepe, Dorval, Rivelino, Gérson, Tostão, Everaldo, Zico, Falcão, Dinamite, Romário, Edmundo, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e outras centenas de craques, as estrelas de Pelé e Garrinha se destacam. Em um continente que gerou Di Stéfano, Juan Schiaffino, José Andrade, Teófilo Cubillas, Maradona, Luiz Soares, Messi e outros tantos, Pelé é reverenciado. E não somente pela sua técnica, praticamente perfeita, mas pela revolução que causou no futebol.
É notória a linha divisória que há neste esporte tão aclamado mundo afora: uma antes, outra depois do Rei. Ninguém mudou tanto a história desse esporte (e de outro qualquer, talvez) quanto Pelé. Se Didi criou a folha seca, Leônidas da Silva, a bicicleta, Cezário Onzari, o Gol olímpico, Garrincha, o drible sem bola e Sérgio Echigo criou o elástico (alô, produção: o Rivelino o imortalizaria tempos depois), Pelé fez todo o resto. Tanto que não há nada que seja feito hoje que Pelé já não fizera.
A não ser o gol de meio de campo, jogada criada por ele na copa do mundo de 1970. Mas até aí brilha sua estrela genial, pois não é incomum o relato orgulhoso de um atleta que o marca afirmar que marcou o gol que Pelé não fez. Fato inusitado, por sinal, pois desconheço atletas, fora Pelé, lembrados por lances seus que "não deram certo".
Mas há um fato que muitos desconhecem: Pelé nasceu vascaíno. Em 1957, enquanto o Club de Regatas Vasco da Gama fazia uma incursão pela Europa, aplicando goleadas em Barcelona e no Real Madri do Di Stéfano, o clube carioca fez um combinado com o Santos e montou um elenco para disputar o torneio. Ambos com os seus jogadores mais jovens. E Pelé, então com 16 anos e reserva da equipe da Vila Belmiro, teve sua oportunidade.
Vestindo a camisa do clube do coração por 03 partidas (jogaria mais uma neste torneio vestindo a do Santos), disputou um torneio intercontinental com clubes do Brasil e da Europa, sagrando-se, pela primeira vez, campeão em sua carreia. Um título não contabilizado em sua estante vitoriosa, mas que serviu para chamar a atenção das imprensas carioca e nacional, impulsionando-o imediatamente para a seleção brasileira na semana seguinte, onde disputaria o torneio La Roca, terminando como vice-campeão para a Argentina.
Pelé nunca escondeu sua paixão pelo Vasco. Em 2020, revelou gratidão pelo clube por ter sido lançado neste torneio, no combinado das duas equipes. O Rei do Futebol reafirmou ser vascaíno e disse que, se pudesse escolher outro time para ter defendido, escolheria o Vasco da Gama. Nascia ali, naquele torneio, uma Lenda, um Imortal. Porque gênios não morrem, perduram. Edson se foi; Pelé é Eterno! Edson é homem, um ser humano imperfeito. Pelé não.
Em um país onde os negros são apagados em decorrência do racismo (outro vascaíno, Adhemar Ferreira da Silva, maior atleta olímpico do país, que o diga, assim como Rebouças, engenheiro...), Pelé é imortal! Que descanse em paz o Edson Arantes do Nascimento e que Viva Pelé por vários séculos, Rei do esporte mais praticado no mundo.