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Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

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Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Alienígenas encontrados no Brasil

23.11.22

Intervenção alienígena.png

Na noite deste dia 21/11/2022, na cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, estado mais meridional do Brasil, algumas dezenas de pessoas clamaram por intervenção alienígena, impacientes com a inanição das forças armadas em sair às ruas para atender as suas vontades pouco democráticas e coletivas após a derrota de seu messias capitão nas urnas. O desejo é claro: uma deposição do atual governo mediante uma intervenção militar (que chamam de intervenção federal), embora não haja conjuntura política para que ocorra um golpe de estado no Brasil no próximo período.

O motivo desta insanidade e de toda essa alienação já foi debatido neste blog, embora de maneira ainda bastante insipiente. Prometo me debruçar qualquer hora para discutir diretamente essas questões com mais afinco, mesmo porque se trata de um fenômeno mais global e que tem muito mais a ver com elementos da crise orgânica e conjuntural do sistema capitalista mundial que de insanidade pura e simples de meia dúzia de temerosos do comunismo, que clamam por uma ditadura militar neste país.

Por ora fiquemos com o fato, que por si só já descreve o mundo doentio em que vivemos. Dispostos em círculos com celulares (telemóveis) sobre suas cabeças e alternando movimentos com as mãos sobre as luzes das lanternas acesas, o grupo buscava chamar a atenção de seres vivos extraterrenos. No centro do círculo, os dizeres iluminados: SOS. A motivação: a vitória do mal nas urnas, que vencera o bem. O argumento: as eleições foram fraudadas, embora auditoradas pelo TCU, TSE, forças armadas e por mais três organizações estrangeiras.

Esse ritual veio a se juntar a uma série de outras esquisitices bizarras desse grupo radical que busca de qualquer forma impor sua vontade contra o desejo da maioria. A loucura é uma ilha perdida no oceano da razão, dissera Machado de Assis, que com todo o seu ceticismo pareceu subestimar o quão longe chegaria a degradação humana nessa fase de acentuada crise do capitalismo. Parece-me cada vez mais verossímil a razão como uma ilha perdida neste oceano de insanidades pensadas.

A ditadura militar no Brasil caiu oficialmente em 1984, após gigantescas paralizações operárias nas fábricas de todo o país. Deste movimento de lutas, surge no Brasil o que ficou conhecido como Diretas Já!, movimento político que arregimentou todos os setores burgueses e da sociedade civil que se opuseram à ditadura. Fruto de toda essa luta nasceu a constituição brasileira de 1988, que, dentre tantas outras coisas, criminaliza manifestações pedindo intervenção militar, crime previsto em lei passível de prisão.

Mas como pau que bate em Chico não bate em Francisco, esses intervencionistas passam incólumes, cometendo atrocidades desumanas diariamente contra pessoas simples e pobres que não concordam com eles, como o caso do rapaz que foi humilhado, agredido e forçado a tremular por alguns minutos a bandeira nacional porque fora descoberto bebendo café em um das barracas de apoio a estes marginais. O caso ocorreu em Santa Catarina, também no sul, na cidade de Balneário Camboriú, uma das regiões mais ricas do país.

A pergunta que muitos brasileiros vêm fazendo é a seguinte: "e se fossem professores ou outros trabalhadores que, mesmo de forma ordeira e respeitosa, fossem às ruas reinvindicar por direitos tirados, teriam o mesmo tratamento das forças de coerção do estado?" A resposta já sabemos qual é: o pau iria comer bonito, como é de praxe em qualquer atividade política na qual o trabalhador exerce o seu golpe mais poderoso: parar a produção. Greve não pode, mas pedir por intervenção militar com a conivência do estado, das forças de coerção e, inclusive, de partidos ligados à esquerda, como o próprio PT de Luiz Inácio Lula da Silva, pode.

Então, se o momento é de receio e de pouca movimentação ainda por parte dos trabalhadores, vou aproveitar o clamor dessas dezenas de pessoas e pedir também por intervenção alienígena. Que os extraterrestres levem esses militantes extremistas pró-Bolsonaro embora, para bem longe. De preferência para longe de nosso sistema solar. Afinal de contas, tão desconectados da realidade estão, e tão perturbados se encontram, que duvido mesmo que sejam deste planeta - que muitos deles acreditam ser plano de fato. Passo a crer, inclusive, que essa reunião desvairada não seja assim tão insana: que sejam sim extraterrestres deslocados de seu planeta (ou lua) natal e impossibilitados de retornar. Estavam pedindo carona para casa, coitados.

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