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Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

TREM

30.01.19

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(Poema de Flora Egídio Thomé, extraído da obra CHUVA DE POESIAS, CORES E NOTAS NO BRASIL CENTRAL)

 

Lá vem um trem

correndo vem,

fazendo curva,

jogando apito,

cheio de trem.

 

Eu vejo um trem.

Um outro trem.

Trem. Mais trem.

 

É trem que chega,

Trazendo gente

Cheia de trem.

 

Que tenho eu

Com esse trem

Que longe vem,

Se não me traz

Nenhum alguém?

Declaração sobre a Venezuela!*

29.01.19

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Não à ingerência imperialista e da direita continental. Nenhum reconhecimento ao governo autoproclamado e pró-imperialista de Juan Guaidó.  Que sejam as massas trabalhadoras as que expulse Maduro do poder. Pela construção de uma alternativa independente da classe trabalhadora e do povo pobre.

 

Rechaço à ingerência imperialista e da direita continental.

 

Há uma ingerência imperialista na Venezuela, com a autoproclamação de Juan Guaidó como presidente interino da República em 23 de janeiro do ano em curso. Isto foi acordado previamente com Donald Trump, que logo em seguida reconheceu e respaldou o “Presidente Encarregado”. Isto é um completo descaramento do presidente norte-americano, ao pretender a partir de Washington designar o presidente de outro país, em uma clara atitude intervencionista. Da mesma forma, e cumprindo as orientações do governo ianque, fizeram os governos lacaios da direita continental com Piñera (Chile), Bolsonaro (Brasil), Macri (Argentina) e Duque (Colômbia) à cabeça. Postura semelhante assumiram o resto dos países do grupo de Lima (à exceção do México) e a OEA.

 

 

Declaração da Unidade Socialista dos Trabalhadores (UST) ante os acontecimentos políticos de 23 de janeiro.

 

Nos dias anteriores, estes mesmos governos haviam emitido resoluções e declararam ilegítimo o governo de Maduro. A partir da UST rechaçamos estas ações intervencionistas do imperialismo e da direita continental. Afirmamos que o governo dos EUA não tem autoridade política nem moral para dar lições de democracia, pois apoia o governo genocida e nazi-sionista de Israel, o governo da Arábia Saudita, além de ter financiado e apoiado uma infinidade de golpes e intervenções militares no continente e no mundo. Podemos dizer algo parecido da OEA, que ao longo de sua história validou ditaduras e apoiou golpes militares no continente.

 

Bolsonaro, por seu lado, tem pretensões bonapartistas no Brasil semelhantes às de Maduro, e por outro lado, ele e seus homólogos Piñera, Duque, Macri, Moreno e outros do continente, aplicam ajustes brutais contra os trabalhadores de seus países, em benefício dos bancos internacionais, das transnacionais e do FMI, ajustes que são similares aos que a ditadura de Maduro já vem aplicando na Venezuela e aos que o governo do autoproclamado Guaidó pretende aplicar.

 

Como militantes socialistas, não podemos apoiar nada disto, declaramos que estaríamos contra qualquer intervenção militar contra a Venezuela ou de qualquer tentativa de golpe militar.

 

Até agora as ações intervencionistas tanto do imperialismo, da direita continental e o Grupo de Lima e da OEA, são similares a outras do passado, ainda que com um acréscimo em seu nível. Circularam ameaças de Trump, via redes sociais, de intervir através do Comando Sul contra o governo venezuelano, bem como existe a negativa do governo norte-americano de retirar seu pessoal diplomático e consular, a partir da ruptura de Maduro das relações diplomáticas e da emissão da respectiva ordem de retirada desse pessoal em 72 horas. Não sabemos se isto terminará em conflito militar, mas em uma eventual situação como essa, estaríamos contra e chamaríamos os trabalhadores tanto da Venezuela como do continente para, junto a eles, enfrentá-la.

 

 

Todo rechaço à ditadura de fome de Maduro

 

É notório que o dia 23 de janeiro institui uma data emblemática na história política do país, e foi a data escolhida pela direção da Assembleia Nacional (AN), na qual se encontram representados os principais partidos da oposição burguesa ao governo ditatorial de Maduro para convocar uma mobilização, que contou com a presença massiva de amplíssimos setores da população, descontentes com a situação.

 

Esta mobilização foi precedida por um conjunto de ações de protestos populares nas diversas zonas de Caracas e outras cidades do país, ações que se repetiram posteriormente e que foram objeto de uma tremenda repressão por parte dos corpos de segurança do Estado.

 

A partir da Unidade Socialista dos Trabalhadores (UST), reivindicamos o legítimo direito que os trabalhadores e o povo venezuelano têm de protestar, manifestar-se e marchar contra um governo que os mata de fome, que os mata por falta de remédios, que os afundou na mais profunda crise que se conhece na história recente do país e que mantém a mais deplorável destruição os serviços de saúde, educação, transporte, telecomunicações e outros. Repudiamos e denunciamos a ação repressiva do governo que, segundo cifras extraoficiais, já superam uma dezena de mortos nos protestos.

 

Além disso, o governo de Maduro e os anteriores de Chávez, são os responsáveis por uma enorme fuga de capitais que supera, segundo analistas, a mais de 500 bilhões de dólares, pela destruição de todo o aparato produtivo estatal incluído a produção petroleira, que atualmente é apenas um milhão de barris diários, por pagar enormes somas de dinheiro aos banqueiros referentes à dívida externa, à custa de cortar por mais da metade (considerando cifras de 2012) as importações de alimentos e remédios e por garantir que as transnacionais, através das empresas mistas, ficassem com enormes fatias da renda petroleira. Todas estas são as causas da brutal crise que hoje os venezuelanos padecem que é de total responsabilidade do governo. Por tudo isso insistimos que este governo deve ir embora. Declaramos categoricamente, Fora Maduro!

 

 

Nenhum apoio ao governo autoproclamado e pró-imperialista de Juan Guaidó

 

Mas nada disto significa que damos algum respaldo político ao autodeclarado e pró-imperialista governo de Juan Guaidó, nem a nenhum representante ou partido da burguesia (tanto opositores como oficialistas).

 

A direção política representada pelos partidos e dirigentes da oposição burguesa não merecem nenhuma confiança política dos trabalhadores e das massas mobilizadas neste 23 de janeiro, são estes mesmos dirigentes que traíram as lutas populares e estudantis de 2014 e 2017, conduzindo-as ao beco sem saída da negociação com o governo. São estes os dirigentes e partido que têm como objetivo constituir “um governo de transição” (como expressaram) com a burguesia tradicional, as transnacionais, a boliburguesia, os restos da dissidência chavista e os partidos da oposição burguesa, preservando as garantias de seus negócios e seus lucros, provenientes da exploração capitalista e da mais abjeta corrupção de burocratas estatais, civis e militares, mantendo na impunidade os ilícitos e delitos de corrupção, fuga de capitais e negócios com o Estado, além dos crimes da repressão.

 

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*Texto originalmente escrito por terceir@ em ESPANHOL para o site da LIT-QI. Traduzido para o português por Lilian Enck e publicado com o título: Declaração sobre Venezuela.

A queda da Barragem de Brumadinho / MG (Brasil) não foi um acidente, foi um CRIME!

27.01.19

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A burguesia e seus políticos são responsáveis por este crime que culminou na tragédia de Brumadinho. Nos finais dos anos 90 a Vale do Rio Doce, estatal sólida brasileira de um setor estratégico da economia nacional, foi "doada" pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) pela bagatela de 3 bilhões de reais à iniciativa privada. E mais, utilizando dinheiro público, pois a compra foi subsidiada pelo BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) a uma taxa de juros de 2% ao ano. Isso, à época, não compensava nem o minério estocado em seus depósitos, já que a empresa fora avaliada por 92 bilhões de reais e tinha em seus armazéns nada menos que 5 bilhões em minério bruto, pronto para a comercialização. O caso foi um escândalo, condenado por todos os setores que se denominam de esquerda no país.

 

Inclusive Luiz Inácio Lula da Silva, que 4 anos e meio mais tarde viria a se tornar o presidente da República do Brasil, condenou a entrega para um grupo de acionistas nacionais e internacionais o controle da maior empresa de mineração do mundo em seu tempo. Mesmo tendo sido um dos críticos dessa medida que entregou parte de nossas riquezas para a iniciativa privada (uma empresa muito estratégica, pra dizer a verdade), nada fez para reestatizar a empresa. Todos sabemos o escândalo de corrupção que envolveu, à época, esse desmonte. Inclusive intelectuais do PT condenaram.

 

O ocorrido em Brumadinho estava mais que anunciado. A história recente mostra que a forma de beneficiamento adotado predominantemente pelas grandes mineradoras no país, caracterizado pela utilização de métodos obsoletos e mais baratos como barragem de rejeitos, é uma fórmula perfeita para os sucessivos crimes que se vem registrando. Desde 2001, este é o sétimo caso de rompimento de barragem no Estado de Minas Gerias. E ninguém foi responsabilizado até hoje.

 

Entrou o governo Dilma, em 2011, e nem no assunto tocou referente a essa e a outras privatizações. Nem uma auditoria foi feita, muito menos inspeções para se certificar de que não havia irregularidades nas operações da então Vale. Pelo contrário! Durante o seu governo, intensificou-se o desmonte do Estado, com a abertura do capital dos Correios, a privatização por concessões de alguns aeroportos, a corrupção durante a copa, culminando na privatização por concessões dos estádios construídos com dinheiro público e a privatização de poços do pré-sal, na época considerada a maior privataria do país.

 

E então vem a tragédia de Mariana, ocorrida em Novembro de 2015, que matou 19 pessoas e culminou na morte do Rio Doce, que deu nome à antiga estatal. A Vale / Samarco não foi punida. Ninguém foi compensado por suas perdas humanas e - em muitos casos - materiais. Não se foi discutido sequer os motivos da tragédia, impulsionados pela sanha de lucros de investidores e pelo descompromisso total pelo meio ambiente e pelas vidas humanas e dos animais. Continuou como se nada tivesse acontecido.

 

Aliás, algo foi feito no que tange a esta tragédia: a então presidenta da República Federativa do Brasil assinou o mal fadado decreto 8.572 de 13 de Novembro de 2015, considerando desastre natural o rompimento de barragens. Tal decreto complementa a lei 8.036, de 11 de Maio de 1990, em seu inciso XVI do caput do artigo 20. Esta lei, por sua vez, delibera sobre a retirada do FGTS (Fundo de garantia por tempo de serviço), por parte dos trabalhadores, em casos também de rompimentos de barragens, considerados agora algo natural.

 

A medida obviamente foi duramente reprimida pelo Comitê Nacional em defesa dos territórios frente à mineração, não somente por desonerar da culpa a Vale pela tragédia. E expôs acertadamente, pelo menos, três problemas (citação direta):

 

  1. Porque deveriam os trabalhadores usarem seu FGTS numa situação como a do acidente da Vale/Samarco se não foi acidente natural? Não seria a Vale/Samarco quem deveria custear imediatamente as despesas destas famílias?
  2. Até que ponto a declaração como "Natural" o desastre decorrente do rompimento ou colapso de barragens, mesmo sendo específica para o FGTS pode dar precedentes jurídicos na defesa de mineradoras em processos de indenização?
  3. Porque no decreto, ao invés de transformar em causa "Natural" o colapso de barragen, simplesmente versa que em casos de colapso de barragem, as vítimas podem sacar o FGTS?

 

Foi no governo Dilma também que se intensificou de maneira ainda mais agressiva o avanço do latifúndio sobre o cerrado brasileiro e sobre a floresta amazônica. Esse predadorismo sobre nossas florestas e sobre os povos que lá vivem culminou em verdadeiras chacinas contra povos indígenas, como os Guarani-Kaiowá. Kátia Abreu, a rainha da motosserra e lobista do agronegócio, como ministra da agricultura no governo Dilma Roussef não foi por acaso.

 

Mesmo depois disso tudo, passou ao largo do governo Dilma da época uma CPI sobre a privatização da Cia Vale do Rio Doce e suas consequências nefastas. E se não se discutiu sequer uma compensação monetária pelos crimes, quiçá a reestatização da empresa roubada.

 

Não bastasse, logo após a tragédia de Mariana, o ex-governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), sancionou uma lei estadual que flexibilizou o licenciamento ambiental para esses projetos em Minas Gerais, liberando a ampliação de mais duas minas no local da atual tragédia. Assim como o atual Governador Romeu Zema (NOVO), que afirmou, logo após eleito, que teria como prioridade acelerar ainda mais o processo de licenciamento ambiental, sob a justificativa de atrair novos investimentos. Vejam no que deu...

 

Entrou então o vil Michel Temer (MDB), o vice da Dilma, e o descaso e as corrupções somente aumentaram. Muitas isenções de impostos foram concedidas aos empresários inescrupulosos. Inclusive a Vale / Samarco tem uma série de isenções e uma dívida ativa com união que chega aos 42 bilhões de reais, incluindo aí uma multa de 1 bilhão pela tragédia de Mariana não paga. E Temer também nunca mexeu uma palha. Pelo contrário! Publicou uma portaria que alterou o conceito de trabalho escravo no artigo 149 do Código Penal, atendendo a uma reivindicação antiga da bancada ruralista. A proteção continuou.

 

E agora tem esse escroque do Bolsonaro (PSD), miliciano que viveu por 30 anos na aba do PPB (atual PP), que aprovou politicamente a privataria do governo FHC (inclusive empresários do seu partido à época lucraram muito com a negociata e lucram até hoje) e que defende hoje praticamente o fim das leis de proteção ambiental em prol da sanha da burguesia por lucros.

 

Este boçal que falou em Davos que somos o país que mais protege o meio ambiente, mas que praticamente liberou o predadorismo incontrolável para diversão: autorizou a caça em locais inclusive de proteção ambiental para agradar seus colegas parlamentares...

 

Este boçal que declarou guerra oficial aos indígenas, que quer acabar com as poucas demarcações de terras para agradar os latifundiários, que praticamente pôs fim ao Ministério do Meio Ambiente, que já anunciou um pacotaço de privatizações (deixando a economia brasileira ainda mais dependente e vulnerável) e que agora veio a público falar que não é responsabilidade do governo federal a tragédia de Brumadinho. Mais do mesmo: protegerá a burguesia e seus negócios em detrimento da população pobre e trabalhadora, que é a real produtora de toda a riqueza no país.



Diferente dos discursos adotados pelos governos e pelas grandes empresas, a mineração, tal como é praticada hoje, não está a serviço do progresso das comunidades atingidas. Bem da verdade, é o contrário: é marcada por baixos salários, desemprego em tempo de crise, poeira, doenças, acidentes e catástrofes como essa, em troca de migalhas que caem da mesa dos acionistas.

 

É preciso reestatizar a Vale - bem como as demais empresas públicas privatizadas por esses bandidos -  e prender Fábio Schvartsman, presidente da Cia, assim como todos os envolvidos; não podem ficar impunes duas vezes. "Pela reestatização da Vale sem indenização sob o controle total dos trabalhadores!"; "Toda a solidariedade às vítimas deste crime hediondo!" Eis o que clamamos nós brasileiros. E por um governo socialista, controlado por trabalhadores por meio de conselhos populares, pois é o único meio de darmos fim a essa barbárie em que vivemos.

 

Se em tragédias como essas os partidários do CAPRICHOSO e do GARANTIDO ainda acreditam que defendem projetos distintos de poder e saem às veras aqui nas redes sociais, tenho apenas que dar de ombros; apoiam também - mesmo que sem querer, na maioria das vezes - os culpados e assassinos. Brasil acima de tudo; lama acima de todos.

No Limiar do poema

23.01.19

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A Fererira Gullar

 

Na esquina daqueles versos

um estribilho soa dissonante.

Um ronronar confuso e (quase) oblíquo

lateja com força

Na esquina daqueles versos.

 

Não é voz de gente, de pássaro...

Não é voz de flauta, piano, violão.

É a voz rouca do poeta,

do poema que insiste em se libertar

... a esmo... fortuitamente...

Na esquina daqueles versos.

Terraplanismo: a religião da Terra plana

21.01.19

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O que é o Terraplanismo?

Há certo tempo vemos uma discussão infundada a respeito da planificação terrestre. Essa teoria, denominada terraplanificação (ou terraplanismo), pressupõe, como o nome indica, que o planeta terra é um disco plano, onde o polo norte fica no centro e a Antártida circula todo o planeta, com um muro de 45 metros de altura, evitando que o oceano se esvaia no espaço sideral. Segundo os defensores desta ideia, os governos principais, com o apoio da Nasa, protegem esta borda e escondem a real forma do planeta no intuito de evitar que pessoas o escalem e saiam para fora do disco.

A despeito da tolice que possa parecer o assunto, a crença de que o planeta não é esférico vem ganhando milhares de adeptos todos os meses: 200 pessoas por dia, segundo os membros da STP (Sociedade Terra Plana), a grande maioria delas nos EUA e na Inglaterra. Não à toa vem sendo considerada a maior "teoria da conspiração" de nossos tempos.

Os ciclos entre dia e noite são por eles explicados pelo posicionamento do sol e da lua, que têm tamanhos similares (são esferas com 51 km cada). Segundo essa crença, se movem similarmente em círculos de 4.828 Km sobre o plano terrestre, sendo que as demais estrelas estariam a apenas 4.988 km acima daqueles corpos (sol e lua). Como estão ambos em lados opostos, o sol apareceria durante o dia; a lua durante a noite, iluminada pelo sol, ao que parece. Só que, pelo planeta ser plano e lua e sol estarem paralelos, girando em círculos regulares sobre o disco terrestre, como explicar então os eclipses? Simples, ora! É que existe uma "antilua", invisível para nós, mas que cumpriria este papel.

Outra conquista científica que os incomoda é a gravidade, inexistente segundo suas concepções. Segundo estes "teóricos", a força gravitacional não nos "empurra para baixo", mas é bem o inverso: o disco da terra é que acelera para cima, a uma velocidade média de 9,8 m/s², movido por uma misterirosa força, denominada energia escura. Inclusive se apropriam de elementos da Teoria da Relatividade, de Einstein, para tentar compreender se a terra avançará para cima gradativamente até alcançar a velocidade da luz.

Nesse sentido, nada muito diferente do que faz algumas correntes religiosas, como os Testemunhas do Jeová, por exemplo, que se apropriam de elementos já difundidos pela ciência moderna, desfigurando-os no intuito de reler a bíblia sobre um novo ponto de vista, a partir de novos paradigmas. Não à toa o medo que têm de novas descobertas científicas.

Associam (igualmente) à criação do planeta terra o Deus cristão medieval, aquele que abraçava o universo e que o mantinha seguro, com a terra plana no centro do cosmos e com todos os demais "objetos espaciais" a circundá-la. Há correntes inclusive que afirmam categoricamente que a terra está estática no espaço, contradizendo a versão da STP a respeito.

Mas até aí temos outra contradição. Nosso planeta, o sol, ou qualquer outro corpo celeste, exerce gravidade por ter uma grande massa disposta em um formato ESFÉRICO. Isso faz com que tudo seja puxado para o mesmo centro de gravidade, o núcleo do círculo. Se a Terra fosse plana, a gravidade poderia até existir, mas sem força suficiente de atração reunida em um mesmo ponto para "puxar as coisas para baixo", tendo, ao invés disso, diversos pontos de gravidade sem força suficiente para atração em nenhum deles.

Não bastassem esses problemas mal resolvidos, os terraplanistas afirmam ainda ter um domo de vidro a circundar este planeta plano. E o melhor: construído por seres extraterrestres! Este seria o responsável por prender a atmosfera no planeta e teria concomitantemente a função de nos impedir a ver a realidade externa a ele. Há gente que afirma, inclusive, que a Austrália não existe e que o planeta marte é uma estrela.

Mas se a terra é plana, o que há abaixo dela? Bem, essa resposta não têm para dar, embora creiam que seja composta majoritariamente por pedras. Afirmam igualmente que todas as fotos tiradas do espaço são produtos de editores de imagens e que os aparelhos de GPS são adulterados de fábrica para nos fazer pensar (a nós todos) que estamos voando em linha reta sobre uma esfera, quando a verdade é bem outra: voamos em círculos sobre um disco.

Em linhas gerais, são estes os principais argumentos que apoiam a construção deste discurso absurdo, que não é capaz de explicar, por exemplo, porque vemos, ao longe, no horizonte, primeiramente as velas de um barco e não ele por inteiro, já que a terra é plana, ou porque dois corpos com massas diferentes quando lançados a uma mesma altura não tocam juntos ao solo, ou ainda porque não sejamos capazes de ver a estrela polar no hemisfério sul, dentre outros.

Como já dito, há vários grupos espalhados pelo mundo - inclusive no Brasil - e, à medida que as contradições sociais vão aumentando em decorrência da falência do capital, vai ganhando força essa teoria da conspiração. E não é fortuito este crescimento! Há hoje uma crise enorme do discurso científico em todo o mundo; a própria ciência se encontra engessada pela ânsia de lucro de capitalismo, que a usa praticamente no intuito de gerar lucro e novas mercadorias. Acresce a estes fatores uma educação burguesa antidialética, praticista, fragmentada, tecnicista e aberta a esses "discursos" criacionistas e não é difícil de compreender o surgimento dessas religiões com estofo de ciência.

Há tempos a burguesia é uma classe social reacionária, que reforça tudo quanto é tipo de misticismo como forma também de auxiliá-la a manter seus privilégios. Há tempos o capitalismo se mostra incapaz de resolver as contradições por ele próprio criadas. Os abismos sociais e as convunções por eles geradas são cada vez mais constantes. A massa de pobres e de desesperançados só aumenta. A descrença na humanidade, sempre individualizada, nunca contextualizada, só cresce. A agonia e a perda de direitos vem a reboque dessas contradições... Eis aí um mosaico rico e favorável para os misticismos e para esses discursos idealistas vulgares, que buscam sempre as respostas na vontade divina, na razão universal, na ideia absoluta ou em alguma outra forma de abstração que se distancie da realidade concreta.

 

Por que é perigosa a crença da Terra plana?

Costumamos rir, zombá-los, ignorá-los. Mas o fato é que vêm ganhando mais e mais espaço essas ideias estapafúrdias. E perigosas. Muito perigosas. Não à toa sua defesa por parte de praticamente todos os ideólogos da extrema-direita contemporânea, ao redor do mundo.

É que o terraplanismo é uma ideologia (falsa consciência) que visa a se juntar a outras existentes (como o racismo, a homofobia, a xenofobia, a xenofilia...) e que pretende agregar a elas outras já superadas e a reforçar estas já existentes. Em seu bojo vem também a animalização dos povos não caucasianos, a teocratização do estado, a destruição de direitos, a injunção de valores reacionários. Em suma, pode até parecer loucura, mas é uma loucura pensada.

Ora, o terraplanismo não é uma invenção contemporânea. Tampouco é uma criação que nasceu acabada, madura. Surgiu há uma boa dezena de séculos e teve seu auge (no Ocidente), na Europa medieval. À época, à esta teoria (que nada mais é que um conjunto de ideias amarradas) agregavam-se valores já superados há muito pela ciência contemporânea.

Dai a coerência em afirmar que esse pessoal quer trazer de volta o "obscurantismo" da idade média, reintroduzindo não somente a Terra no centro do cosmos, mas elegendo concomitantemente as bruxas do nosso tempo para queimá-las em praça pública, provavelmente em Brasília, na versão tupiniquim. E é difícil de se imaginar quem seriam essas bruxas em épocas de grandes choques entre as classes sociiais?

Não à toa atacam veementemente Newton e - acreditem - Einstein. Aliás, atacam a ciência em seu conjunto: atacam inclusive intelectuais que não são do meio. Mas de fato, o mais agraciado com suas besteiras é, sem dúvida, o socialista Albert Einstein. E tudo isso graças a uma das teorias mais revolucionárias de todos os tempos: a Teoria da Relatividade. Ou seja, se por um lado se apropriam de um elemento específico da complexa Teoria da Relatividade intuindo compreender a alienação forçada de suas ideias, por outro a negam em seu conjunto.

E articulam tais críticas não à toa, pois ela ajuda a provar a esfericidade dos corpos celestes, dentre outras perturbações que causa. Afirmam que não funciona, por exemplo, por não provar, segundo "informa" o próprio curandeiro Olavo de Carvalho, a constância da velocidade da luz no espaço. Balela! É justamente o contrário; vem sendo testada em limites que nem o próprio Einstein tinha pensado e está sendo comprovada experimentalmente há 100 anos. Inclusive, cientistas pensaram em modelos alternativos, mas a "simplicidade e beleza de suas equações" mostra que a relatividade se destaca como o melhor caminho, segundo a navalha de Occan - princípio lógico que defende que qualquer fenômeno deve assumir o menor número possível de premissas. Todos os cientistas que buscaram um modelo alternativo, falharam, enquanto a Relatividade continua sendo a mais utilizada e aplicada.

A relatividade explica vários fenômenos da maneira mais simples possível e de forma encadeada. A detecção de ondas gravitacionais, por exemplo, é um dentre tantos fatos que corrobora com a teoria de Einstein. Se fosse uma teoria inconsistente, esses subprodutos não seriam verificados. Subprodutos que ele nem tinha pensado estão sendo descobertos...

Mas a Teoria da Relatividade não é apenas uma simples teoria; é um conjunto de postulados teóricos que inicia com a publicação, ainda em 1905, da "Relatividade Especial", que substitui os conceitos independentes de espaço e tempo da Teoria de Newton pela ideia de espaço-tempo como uma entidade geométrica unificada. O espaço-tempo na relatividade especial consiste de uma variedade diferenciável de 4 dimensões, três espaciais e uma temporal (a quarta dimensão), munida de uma métrica pseudo-riemanniana, o que permite que noções de geometria possam ser utilizadas. É nessa teoria, também, que surge a ideia de velocidade da luz invariante.

O termo especial é usado porque ela é um caso particular do princípio da relatividade em que efeitos da gravidade são ignorados. Dez anos após a publicação da teoria especial, Einstein publicou a Teoria Geral da Relatividade, que é a versão mais ampla da teoria, em que os efeitos da gravitação são integrados, surgindo a noção de espaço-tempo curvo.

E não foi somente isso que publicou e que vem sendo comprovado na prática pelos astrônomos. Mas, como vem sendo ela a principal algoz destes doentes, porque não citá-la como forma também de combater a estes imbecis reacionários que pretendem incutir um conjunto de valores negados há muito pela filosofia e pela ciência? Eis aí uma sugestão...

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Leia também:

No nascimento de um filho

18.01.19

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(Segundo poema chinês de Su Tung-Po, 1036-1101)

 

Famílias, quando lhes nascer um filho

Façam votos de que seja inteligente.

Eu, que pela inteligência

Arruinei minha vida

Posso apenas desejar

Que meu filho se revele

Parvo e tacanho.

Assim terá uma vida tranquila

Como ministro do governo.

Subscrever-se

15.01.19

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Escrever

             é

             sentir

                     com palavras

             o que não se pode

expressar

com sentimentos.

 

 

                                 Sentir

                                          é

                             escrever

           com a alma

o que não se sabe

expressar

por palavras.

O que é Literatura?

01.01.19

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A arte, dizem-nos, não é um espelho, mas um martelo. Ela não reflete, modela. Ensina-se o manejo do martelo com o auxílio do espelho sensível que registra todas as etapas do movimento.
Leon Trotsky
 
Nesta bela introdução ao seu livro Teoria da Literatura – uma introdução, Terry Eagleton elenca alguns dos questionamentos mais repetidos pelos estudantes e estudiosos da literatura. Afinal, o que é literatura?
 
Muitas têm sido as tentativas de tentar defini-la, e Eagleton inicia sua arguição com a possibilidade de a literatura ser tida como um texto com um caráter imaginativo, ou seja, nas palavras do próprio autor, “uma escrita imaginativa – no sentido da ficção – escrita que não é literalmente verídica”. Esta, de fato, é uma possibilidade – talvez a mais corrente e prosaica delas – de categorizá-la, na medida em que é geral conceituar-se literatura como um texto não verídico, uma mera estória que muitas vezes é lida para o deleite próprio, tampouco vista como “uma alegorização do real”. Contudo, esta simples distinção entre fato e ficção se mostra logo limitada não somente por ser insatisfatória e questionável, mas principalmente por não abarcar a complexidade com que é vista e lida uma obra tida como literária.
 
Para tanto, Eagleton nos recheia com alguns exemplos de textos que são considerados HOJE como literatura inglesa, mas que à sua época não foram escritos com este intuito, ou não eram vistos como textos literários. E tais exemplos perpassam de discursos fúnebres a epístolas de mães para filhas. De fato, para um leitor do século XXI que se depara com a Odisseia ou com as cartas de amor de Mariana Alcoforado, certamente que não terá dificuldades em categorizá-los como literatura, mesmo que não tenham sido estas as intenções de seus autores. Contudo, textos como o Gênesis ou mesmo os diálogos de Platão podem causar certa confusão, pois uns os lerão como ficção, outros como textos filosóficos ou factuais.
 
Ademais, o considerar a literatura como um texto criativo, imaginativo, é desconsiderar, por exemplo, toda a criatividade e toda a poesia das prosas de Gilberto Freyre, Friedrich Nietzsche e Leon Trotsky, para citar somente três exemplos.
 
Por isso, chega à conclusão de que para se tentar conceituar literatura talvez seja necessária uma abordagem totalmente distinta, muito mais científica que a primeira. E aborda conceitos e princípios previamente trabalhados pelos formalistas russos e bastante explicitados na obra Linguística. Poética. Cinema, uma coletânea de textos de Roman Jakobson, tais como o da literatura como um texto que emprega a linguagem de forma bastante peculiar. Ou, nas palavras de Jakobson, citado por Eagleton: uma “violência organizada da fala comum”1. Isto quer dizer que, ao transferirem a realidade material para o texto literário, os formalistas russos passaram a tratar o texto como uma joia preciosa2, dando ênfase não para o conteúdo, mas para a forma do texto. Em suma, ao aplicarem a linguística aos estudos literários e ao inverterem a forma como expressão do conteúdo, os formalistas inverteram a ordem: o conteúdo passou a ser a “motivação” para a “criação” do texto. Assim, obras como Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, Bom dia para os defuntos, de Manuel Scorza, O Exército de cavalaria, de Isaac Babel, ou mesmo Doutor Fausto, de Thomas Mann, não seriam alegorias de elementos sociais e históricos de seu tempo, ou de uma época. Pelo contrário: a sociedade e os acontecimentos políticos à época em que foram escritos é que propiciaram a criação dessas alegorias.
 
A despeito desta “visão unilateral”3, o método de análise formal estruturado pela escola formalista tem seus méritos, na medida em que, mantido dentro de limites razoáveis, pode ajudar a esclarecer as particularidades artísticas e psicológicas da forma, já que os formalistas “consideravam a linguagem literária como um conjunto de desvios da norma, uma espécie de violência linguística: a literatura é uma forma ‘especial’ de linguagem, em contraste com a linguagem ‘comum’, que usamos habitualmente”4. Porém, para se identificar tal desvio, faz-se necessário identificar a norma da qual se afasta. Ou seja, a linguagem comum de um tempo, de uma época, não é a de outra. Assim, um texto prosaico do século XV, em decorrência de seu arcaísmo, pode soar extremamente rebuscado no século XXI, a ponto de talvez lhe ser auferido, no corrente século, o status de literário. Da mesma forma que um texto que causava certa estranheza há um século (literatura pornográfica, por exemplo) pode não causar mais hoje.
 
Assim, considerando como insofismável o argumento de que o discurso não pragmático é uma qualidade indiscutível do texto literário, isto acarretaria dizer, segundo Eagleton, que a literatura não pode ser definida de fato objetivamente, ficando esta definição a cargo da abordagem que o leitor resolve dar a esta ou àquela obra. Ou seja, sob esta ótica, superestima-se a maneira pela qual as pessoas se relacionam com os textos em detrimento de um conjunto de qualidades evidenciadas e atribuídas ao que se denomina “fazer literário”.
 
Contudo, ainda não chegamos a uma definição conclusiva do que seria literatura. Talvez poderíamos afirmar que literatura é um discurso “não pragmático”, já que não há aparentemente uma finalidade pragmática imediata? Eis outro questionamento levantado por Eagleton, que logo elenca suas limitações, já que esta linguagem autorreferencial, esta espécie de metalinguagem sugere que de fato literatura não possa ter uma definição objetiva, ficando a cargo do leitor determinar, por meio de suas experiências e expectativas, o que é ou não é literatura, e não da natureza daquilo que é lido.
 
Obviamente que esta qualidade traria muitos problemas para a classificação do literário, pois certamente que um geografo ou um engenheiro não leriam Os Sertões, de Euclides da Cunha, com o mesmo olhar de um historiador, nem tampouco com a mesma perspectiva que um professor de literatura. Contudo, se é verdade que muito do que é considerado literatura foi produzido na intenção de sê-lo, é bem verdade que outras obras não o foram. E se essa qualificação ocorre graças a mudanças significativas de valores sociais, não é verossímil a afirmação de que a produção do texto em si é bastante mais importante que sua própria produção. Se assim o fosse, poderíamos pensar literatura menos como um conjunto inerente de regras (artísticas, estilísticas…), do que como as várias (quase infindáveis) maneiras pelas quais as pessoas se relacionam com a escrita.
 
Chega-se ao ponto de partida. Ou seja, nenhum dos conceitos previamente abordados é satisfatório para se definir o que é literatura. Então, Eagleton nos sugere uma quarta e última qualidade: a de que literatura possa ser aquele texto bem escrito, ou melhor, aquele texto escrito de maneira bonita, bela. Essa verdade, como é de se notar, parece um tanto inverídica, na medida em que se consideraria literatura a escrita que nos parecesse bonita. Gilberto Freyre, por exemplo, é “ótimo em seu gênero”; o mesmo não se pode afirmar de Octavio de Faria (ao menos ao meu ver). No entanto, este é considerado literatura; aquele não. Veja que este critério de escrita valorizada, além de bastante questionável e subjetivo, encerra em si uma consequência devastadora: a de que a literatura não é uma categoria objetiva, e de que tudo o que é literatura – em seu sentido mais “eterno” – pode deixar de ser a qualquer momento.
 
Embora todas as obras literárias sejam reescritas pelas sociedades que as leem, não é verdade que literatura seja apenas aquilo que desejamos chamar com tal. “Isso porque não há nada de caprichoso nesses tipos de juízos de valor: eles têm suas raízes em estruturas mais profundas de crenças, tão evidentes e inabaláveis quanto o edifício do Empire State. Portanto, o que descobrimos até agora não é apenas que a literatura não existe da mesma maneira que os insetos, e que os juízos de valor que a constituem são historicamente variáveis, mas que esses juízos têm, eles próprios, uma estreita relação com as ideologias sociais.”5
 
 
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1 Pelo caráter do texto, meramente “informal”, pretendo não me aprofundar nesta discussão. Lev Davidotch Bronstein, em seu livro, “Literatura e Revolução”, de 1923, escreveu um belo capítulo, intitulado “A escola de poesia formalista e o marxismo”, no qual explana as virtudes e os equívocos dos formalistas (inclusive usando como exemplos os intelectuais filiados ao partido bolchevique), comparando suas análises com o método materialista dialético, bastante distinto daqueles.
 
2 Se não estou enganado esta é uma expressão de Yury Tynyanov.
 
3 Relativizo a expressão porque não havia um desprezo completo por elementos externos à obra, mas pelo fato de os formalistas não considerem-no relevante para o trabalho crítico.
 
4 Eagleton, Terry. O que é Literatura. In: Teoria da literatura: uma introdução. 6.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
 
5 EAGLETON, Terry. Op.cit., p.24.