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Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Os problemas programáticos e teóricos dos conceitos de esquerda e direita: seus limites e suas contradições

02.12.18

No debate político há termos que de tão ordinariamente empregados parecem ter significado óbvio, sem necessidade de maior reflexão sobre eles. Esquerda é um deles. Entre os movimentos de oposição ao presidente Michel Temer, por exemplo, todos se identificam como de esquerda. A direita está no governo. Contudo, a aparente simplicidade oculta questões bastantes profundas como se verá a seguir.

 

Alguns significados

Os termos direita e esquerda, como se sabe, qualificaram originalmente os lugares ocupados no parlamento pelos setores conservadores (a direita) e os setores mais revolucionários da burguesia e pequena-burguesia (a esquerda) da França revolucionária do final do século XVIII.

Essa definição bastante genérica obviamente ganhou novos conteúdos dados pela luta de classes e chegou ao vocabulário atual com a carga das grandes experiências políticas do século XX e XXI. Isso está refletido nas análises dos fenômenos sociais do período.

Eric Hobsbawm, por exemplo, fala de uma esquerda no pós-Segunda Guerra que incluía até humanitários liberais e social-democratas moderados[1]. Também usa a variação esquerdista para qualificar certo tipo de golpes militares comuns na América Latina e no mundo islâmico. Na Europa haveria o exemplo de Portugal, em 1974[2], na Revolução dos Cravos.

Por sua vez, Jacob Gorender propõe uma definição genérica:

…esquerda [é] o conceito referencial de movimentos e ideias endereçados ao projeto de transformação social em benefício das classes oprimidas e exploradas. Os diferentes graus, caminhos e formas dessa transformação social pluralizam a esquerda e fazem dela um espectro de cores e matizes.[3]

Vindo de outra tradição, Michael Löwy classifica todos os governos latino-americanos de frente popular recentes de esquerda. De um lado, haveria os social-liberais, como o do PT no Brasil, e do outro, os antioligárquicos, antineoliberais e anti-imperialistas, como o venezuelano[4].

Por fim, lembremos que em Lênin e Trotsky o uso dos conceitos em análise foi feito de forma bastante bem delimitada. Direita, esquerda e centro somente eram usados no contexto dos debates políticos internos ao partido[5]. Ou pejorativamente, como no caso da variante esquerdismo. Em todo caso, diferentemente dos exemplos citados acima, não se tratava de qualificar as lutas entres duas forças sociais com projetos políticos antagônicos.

À exceção dos dirigentes bolcheviques, para os demais autores no espectro da esquerda a diferença fundamental são os meios para mudar dada realidade social, não os objetivos de longo prazo. Haveria esse denominador comum entre tradições políticas tão diversas quanto comunismo, liberais com preocupações sociais, anarquistas, setores nacionalistas das forças armadas, dentre outros.

O embate entre esquerda e direita não é a luta de proprietários contra os não-proprietários dos meios de produção, mas sim o enfrentamento entre campos de valores: de um lado, tudo o que é considerado progressista, democrático burguês mais ou menos radical, simpático às liberdades individuais e coletivas, é igualado à esquerda; tudo o que é conservador, retrógrado, determinado a manter a ordem, ligado à direita.

 

Unificar inimigos

Como se vê, a noção de esquerda se aproxima da de progresso. Sob esse ponto de vista bastante genérico, cabem programas que a princípio são conflitantes teórica e politicamente, mas que estariam unidos – e efetivamente se uniram em certas ocasiões na história – por algum projeto comum contra determinada ordem vigente. No Chile de Allende, por exemplo, o inimigo de Pinochet foi “a esquerda unida de socialistas, comunistas e outros progressistas – o que a tradição europeia (e aliás a chilena também) conhecia como ‘frente popular’ “[6].

Fica legitimada dessa maneira a unificação política entre classes irreconciliavelmente antagônicas. As frentes populares são por excelência os grandes exemplos históricos de unidade da esquerda com um projeto de poder em comum, no qual se unem direções de frações da classe trabalhadora e da burguesia.

No Brasil não foi diferente. Na verdade é um dos eixos mais persistentes entre as organizações dos trabalhadores e setores médios auto-identificados com a esquerda. O exemplo mais acabado disso é o Partido dos Trabalhadores e seu socialismo nunca muito bem definido[7]. Mas o PT e o reformismo brasileiro contemporâneo em geral não inovam nisso, sendo herdeiros de uma tradição que nasceu com o antigo PCB.

 

Campos, estratégia e luta de classes

Esquerda é, portanto, um campo político. Não necessariamente de classe, como vimos. Esse campismo é parte importante da história dos movimentos operários e dos trabalhadores.

Segundo Nahuel Moreno, se origina contemporaneamente na teoria menchevique da revolução russa. Na luta anti-czarista do proletariado, seria admitido o apoio do partido cadete, representante político da burguesia liberal. Mais do que isso: os primeiros deveriam se subordinar à direção dos segundos, a quem caberia cumprir as tarefas democráticas da transformação social naquele país.

Mas o campismo ganhou inúmeras roupagens posteriores, com Stálin, Mao Tsé-Tung, Michel Pablo e Pierre Lambert. Ou seja, esta concepção atravessou a fronteira do stalinismo, influenciando setores importantes do próprio trotskismo.

No lugar dos campos mencheviques, Moreno propõe adotar o aparato conceitual tradicional de luta entre burgueses e proletários. Retomando o ponto de vista leninista e trotskista nos debates sobre a Revolução Russa, fala de dois campos liderados por cada uma das classes fundamentais. “Um desses campos é o contra-revolucionário, integrado pelo czarismo, os latifundiários e toda a burguesia, incluídos os setores liberais ‘anticzaristas’. O outro, revolucionário, é integrado pela classe operária, os camponeses e todos os explorados”[8].

Vale notar que a construção deste campo revolucionário na Rússia foi descrito por Lênin não como a unidade entre grupos políticos, mas acima de tudo como responsável por unir os setores de classe citados por Moreno.

Essa relação, ao contrário do que se poderia supor, não foi pré-condição para a tomada do poder pelos bolcheviques. Em uma das descrições que faz deste processo, o líder bolchevique explica que na realidade o assalto ao Estado promovido pela classe operária é que teria sido condição para atrair o apoio massivo dos camponeses[9].

A razão é simples: somente com o aparato estatal na mão, o partido e a classe poderiam tomar medidas que provassem na prática aos demais explorados e oprimidos que valia a pena abandonar as ilusões em qualquer alternativa burguesa. É sob esse ponto de vista que Lênin explica, por exemplo, a medida de impacto do novo governo ao nacionalizar as terras.

 

Os limites do conceito

O problema teórico-prático começa quando, como se faz abusivamente no debate político brasileiro, esquerda e direita são explicitamente ou não tornados sinônimos de proletariado e burguesia. Isso é herança dos campismos de todo tipo, mas, no caso do Brasil, possivelmente a origem mais imediata sejam as elaborações do PCB sobre a revolução brasileira.

Em nossa opinião, utilizar o conceito de esquerda – por conseguinte de direita – é válido quando não se trata do conflito entre proletariado/trabalhador e burguesia. É possível, por exemplo, descrever a trajetória de determinado partido, afirmando que “foi à direita” ou “foi à esquerda”.

Contudo, aqui surge aquela que é a questão decisiva: o arco de alianças estratégicas definido pelo campo. Uma força política ir à esquerda não indica que se aproxima de compor o campo revolucionário, cuja missão histórica é expropriar a burguesia. Para tomar o mesmo exemplo: o petismo pode zigue-zaguear à vontade, alternando paralisia e luta, e isso não o fará necessariamente sair do campo contra-revolucionário.

Até uma figura que não causa dúvida em ninguém sobre qual classe representa, como Fernando Henrique Cardoso, pode “ir à esquerda” e defender a legalização da maconha, por exemplo. Haverá quem diga: “isso já é um exagero!” Mas permaneçamos plenamente no campo de possibilidades que o conceito oferece.

A classificação adequada, portanto, precisa relacionar interesses de classe com suas cristalizações em organizações políticas. Assim, o correto é tratá-las por marxistas, centristas ou reformistas. Em todos esses casos, poderemos ver oscilações “à esquerda” e “à direita”.

Por fim, esquerda como sinônimo combinado de valores progressistas e proletariado só faz sentido no âmbito de um tipo determinado histórica, teórica e politicamente de programa da revolução brasileira: o democrático-popular. A esmagadora maioria da esquerda faz uso desse referencial, caso das diversas correntes do PSOL e outros grupos menores. O caso mais emblemático é obviamente o PT.

Curioso é que um aspecto quase consensual entre vários analistas da esquerda da falência política petista é a conciliação de classes. Mas os mesmos que dizem isso, quando se propõe a unificar a esquerda forçosamente atualizam o projeto da conciliação sob a forma de novas frentes-populares em potencial ao retomarem os campos não só sem limites de classe, mas também sem fronteiras de estratégia.

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Referências

BIONDI, Pablo. O caso Lula e a mecânica do campismo. Em: http://armadacritica.blogspot.com.br/2016/09/o-caso-lula-e-mecanica-do-campismo_15.html. Consultado: 16/09/16.

GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas. A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada. São Paulo: Ática, 1987.

HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos – o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

LÊNIN, V. I. As Eleições para a Assembleia Constituinte e a Ditadura do Proletariado. Dezembro de 1919. Obras Escolhidas, tomo 3, pp. 227-244.

LÖWY, M. Da tragédia à farsa: o golpe de 2016 no Brasil. In: Por que gritamos golpe? São Paulo: Boitempo, 2016.

MORENO, Nahuel. A Traição da OCI. S/e, s/a

SECCO, Lincoln. História do PT. São Paulo: Ateliê Editorial, 2015.

ZACARIAS, Carlos. Esquerda/direita: manual do usuário. Em: http://blogconvergencia.org/?p=4934. Consultado em: 26/08/2018.

Algumas Palavras sobre Marx*

02.12.18

Julgamos importante apresentar ao nosso leitor um breve percurso de um dos maiores revolucionários da história. Não faremos aqui um esboço biográfico (uma ótima biografia já foi escrita por Lênin), tampouco uma nota de “AllesGute zum Geburtstag” [feliz aniversário]. Este ano de 2018 marca o que vem se chamando de Marx 200, mas o que poucos dizem é que se trata de 200 anos do nascimento de um dirigente político revolucionário que dedicou a sua vida à construção de um partido internacional sobre controle dos trabalhadores, contra a burguesia e os reformistas.

Diante da grande crise do capitalismo, da brutal necessidade de realização da composição orgânica do capital, de desespero em relação a queda da taxa de lucros e a implacável austeridade ao capital variável, Karl Marx continua atual para o nosso tempo presente e revolucionário como sempre o foi.

Gostemos ou não deste revolucionário, ele é há mais de um século, a principal referência crítica à Economia Política e também à Economics, tão reivindicada pelos analistas financeiros das mais diversas matrizes teóricas.

Gostaria de chamar atenção para o projeto da modernidade burguesa. Este projeto não está escrito em apenas um conjunto de papéis, mas construído na formação de uma nova sociedade do decorrer dos séculos que marcam a passagem da sociedade feudal para a capitalista. A modernidade burguesa apresentou, emblematicamente, a partir da Revolução Francesa, um projeto universal, e para Marx esse projeto era revolucionário.

Entretanto esse caráter revolucionário deu lugar ao aspecto reacionário deste projeto, uma vez que a universalização fora abandonada no mundo prático, delegando a maioria da população um lugar cada vez mais medíocre e animal.

Neste percurso de retrocesso do projeto da modernidade, parte da burguesia esclarecida, educada no seio do projeto inicial da modernidade, se revoltará contra a própria classe e dará vida a uma das mais poderosas perspectivas críticas de toda sociedade burguesa.

Nossos leitores que estiverem ligados á um marxismo banhado pelo stalinismo tremerão todos os ossos e arrepiarão todos os pêlos agora: Marx representa parte desta elite ilustrada que não vê mais nenhuma possibilidade de realização do projeto da modernidade e desenvolverá ao lado de outros intelectuais uma trajetória antitética de sua própria classe de origem. Estamos dizendo que Marx é fruto do desenvolvimento da sociedade burguesa e que este se volta contra a própria burguesia que o educou. É um evento histórico que nenhum historiador honesto pode negar. E nisto não há nenhum problema moral e teórico na construção do pensamento marxiano. A burguesia ao negar o seu caráter revolucionário ao chegar ao poder, “empresta” de suas próprias fileiras uma das maiores potências da plataforma revolucionária do século XIX!

A superação de Marx, ou ainda, o momento emblemático da superação por Marx da perspectiva democrática liberal não se deu apenas com os estudos universitários. Estes foram fundamentais, mas é a partir das intervenções no mundo material (com pretensões transformadoras) é que fora se construindo o Marx que procuramos conhecer hoje. O que estamos apontando aqui é o papel da práxis na constituição do pensamento marxiano, nos anos de 1840, mas principalmente a partir da segunda metade desta data.

Marx, em 1842 trabalhava no jornal chamado Gazeta Renana onde se posiciona a favor dos camponeses da Renânia ao passo que a burguesia negociava com o governo de Frederico Guilherme IV. A ação no jornal diante do tempo presente exigia de Marx um tipo de tempo que o trabalho acadêmico não possui. Diante disso Marx se auto exila e resolve residir em Paris, sobretudo com a necessidade de se formar para encarar o mundo que se apresentava. Paris era o local onde algumas liberdades políticas estavam garantidas e Marx possuía o objetivo de fundar uma revista impressa, os Anais Franco-Alemães com fito de ser enviada a Prússia clandestinamente.

Em 1843 se casa com Jenny von Westphalen (o grande amor de sua vida) e parte para Paris. Com direito há algumas semanas por Kreuznach, durante esse tempo se dedica a leitura e critica da filosofia do direito de Hegel publicada anos antes em 1821. Redige o texto a partir dos seus estudos críticos sobre estado e sociedade civil em Hegel. Para Hegel o Estado fundava e organizava a sociedade civil que existia em caos. Marx não concordava com isso, mas também não tinha claro[1] como encarar essa esfinge.

Chega a Paris e vai morar em uma casa de exilados alemães. Em 1843 reconhece que algo chama sua atenção (os clubes operários, a tradição comunista, o mundo industrial mais avançado) e é nesse momento que nasce, ou melhor, vai se constituindo com mais clareza, o Marx que conhecemos hoje. Antes disso temos um jovem democrata radical, mas que agora se deparará com algo concreto que é a vanguarda do proletariado. Dedicando-se ao projeto da revista, vai conhecer Friedrich Engels. Em 1843-1844 Engels esta trabalhando na fábrica do pai em Manchester. O contato em Paris não foi dos melhores, pois Marx não simpatizara muito com o jovem Engels, filho de industrial. Entretanto, em 1844, Marx recebe um texto de Engels (Um breve esboço) e que o surpreende completamente. Texto que traz a tona suas preocupações levantadas em Kreuznach. Engels é que aponta para Marx o caminho da crítica! É aqui que Marx toma a importância da economia política e como entender a sociedade civil: era através da economia política burguesa.

No final de 1844, Engels retorna da Inglaterra, passando por Paris e estabelece sólida interlocução de idéias com Marx, iniciando ai uma colaboração intelectual que durou a vida toda e resultando em trabalhos como “A Sagrada Família”, “A Ideologia Alemã[2]” e “O Manifesto do Partido Comunista”. É também em Paris que Marx tem contato com o proletariado e a tradição que vem de François Babeuf à Louis Auguste Blanqui através das associações e o movimento operário de Paris. Temos aqui um salto na compreessão de Marx sobre o presente como história (1843-1844). Vincula-se ao movimento operário, digo, aos trabalhadores da tradição comunista e a tradição do movimento operário e é Marx que irá vincular estas duas tradições através de seus trabalhos durante a sua trajetória como investigador, militante e dirigente.

Em 1844- 1847 o problema ainda esta colocado para Marx, o das relações sociais em seu tempo presente. 1845 é expulso de Paris onde colaborava com jornais de exilados alemães. Vai para Bruxelas, agora como exilado e contacta a Liga dos Justos resultando dai um congresso da Liga[3] em 1847 na cidade de Londres, passando a se chamar Liga dos Comunistas e apresenta um programa ao mundo político em inicio de fevereiro de 1848, era o Manifesto do Partido Comunista, em nome de uma organização política (de um partido). Neste mesmo momento 1848 estoura a Primavera dos Povos.

Marx retorna a Paris, fica algumas semanas. Com o ascenso de 1848 o governo provisório cancela o ato de expulsão de Marx que volta para Renânia e cria um novo jornal “A Nova Gazeta Renana”. Desta vez, um periódico com objetivo de orientar a revolução alemã e que termina com a repressão absoluta e que o faz retornar para o exilio partido em 1849 novamente para Paris, rumo à Inglaterra. Em 1850, em Londres a desgraça se estabelece de vez para toda família Marx. Foram várias calúnias, principalmente a de que seria um agente prussiano nos textos de Vogt[4], a pauperização, a morte do filho, as doenças na família, a falta de dinheiro, e, contraditório a tudo isso, a sua maior aplicação aos estudos da economia política que deu vida a publicação ao texto central desta tese em 1859. Foi considerando esta totalidade que nos lançamos à algumas palavras sobre Karl Marx.

Hoje, em 2018, seria um absurdo, diante da crise, procurarmos entender apenas um Marx analista da sociedade capitalista. Marx era um revolucionário de primeira linha e nesta perspectiva uma das condições revolucionárias é entender o que se deseja revolucionar, sem se limitar a escrivaninha ou a biblioteca, é necessário ir às ruas, colocar as mãos na massa… Banhar-se na classe trabalhadora!

O papel do proletariado francês é de um pontapé radical na formação de Marx! Dirão os filisteus: “mas ele teve acesso apena a vanguarda do proletariado”. É verdade e o papel desta vanguarda proletária significou mais do que toda a biblioteca de Berlim na cabeça de Marx!

Sem jamais ignorar as bibliotecas, a classe trabalhadora tem um papel revolucionário na formação de Marx, principalmente quando se instala em Londres (isso também é extensivo a Engels).

Diferente de Marx, hoje, muitos de nós desejamos transformar a sociedade capitalista a partir dos departamentos universitários, da burocracia e até mesmo a partir de partidos radicalmente degenerados… Pois bem… isso não acontecerá desta maneira, não na perspectiva marxiana.

200 anos depois, as referências de Marx continuam sólidas e a composição orgânica do capital, absolutamente é a mesma! Se Marx está morto, sua contribuição revolucionária está mais viva do que nunca! Assim como a classe trabalhadora internacional!

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Referências:

[1] Atenção, “não tinha claro”, significa que neste momento de sua trajetória ainda lhe faltam elementos para a síntese e caracterização do tempo presente. Estes elementos estão em construção no pensamento marxiano e não é possível afirmar que em 1843 Marx tivesse todos os elementos necessários para a publicação de sua “Para a Crítica da Economia Política”, isso só ocorrerá em 1859. Assim, “não tinha claro” é muito diferente de “não sabia o que fazer”, uma leitura séria e atenta perceberá essa diferença com facilidade.

[2] Trabalhamos com a edição da Editorial Boitempo (MARX & ENGELS, 2007), consultando ainda as edições da Hucitec (MARX & ENGELS, 1986) e Presença de Portugal (MARX & ENGELS, 1974).

[3] Em 1844 a Liga procura Engels para uma interlocução, mas o próprio não se afina com os posicionamentos da mesma. Em 1845 Marx é contactado pela Liga, e o posicionamento não foi diferente ao de Engels. Uma organização clandestina não correspondia as aspirações de organização de Marx e Engels. Apenas depois, na antessala de 1847 é que a liga retoma a tentativa de interlocução e obtém sucesso com Engels, e somente posteriormente com Marx, estava dada a oxigenação necessária para esta organização e que assim mesmo não durará por muito tempo, dissolvendo-se tempos depois em 1852.

[4] Carl Vogtfoi representante da esquerda na Assembléia Nacional de Frankfurt entre 1848-49. Em 1859 defende publicamente a politica externa (neo)napoleônica o que lhe custará acusações de ser também um agente do bonapartismo (Napoleão III) e corruptor de intelectuais a favor dos interesses de Napoleão sobrinho. O jornal Das Volks, que recebia colaborações de Marx e Engels, divulga um panfleto anônimo contendo estas acusações e é claro de Vogt abrirá um processo. Por conta do anonimato o Das Volk teve que responder e Vogt acusa Marx como o conspirador e desferindo uma série de acusações que custou à Marx muito nervoso logo no momento em que escrevia a   sua primeira versão pública da Crítica em 1859. Marx soube esperar e após a publicação reunirá uma série de texto e não deixará a polemica com Vogt e a crítica a esse será avassaladora. Marx também processou Vogt, mas a justiça prussiana não aceitou, pois entendia que Vogt não tivera a intenção de ofender Marx (evidente posicionamento esperado do governo prussiano, tratando-se de Marx). Soubesse que Marx não era o autor do folheto anômimo, mas Karl Blind.
___________________________________________________________________________________* Artigo escrito por Jean Menezes e publicado originalmente no blog TEORIA E REVOLUÇÃO.

Capitalisme - la societé de consommation : farce ou réalité ?

02.12.18

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[Dans le capitalisme] L’argent est l’essence alienée du travail et de l’existence de l’homme ; l’essence le domine et il l’adore.

Karl Marx

 

Le facteur déterminant ultime de l’histoire est la production et la reproduction de la vie immédiate.

Friedrich Engels

 

Société de consommation. Complètement absent des analyses de Marx et Engels, ce concept, popularisé au XXème siècle, montra une longue portée, étant présent dans les lectures critiques des théoriciens de l’école de Francfort, en passant par Ana Arendt jusqu’à celles intelectuels contemporains comme Fredric Jamenson et Zygmunt Bauman, par exemple. En fait, rien ne semble plus cohérent que le capitalisme considéré comme une société de consommation, après tout, la marche imparable du capital vers une plus grande appréciation multiplie, chaque jour, la quantité et la diversité des merchandises avec lesquels nous affrontons en les insérant dans notre vie quotidienne comme une nécessité que nous ne pouvons plus éviter.

 

Malgré l’évidence (le truisme), il est utile de dire qu’une telle conception est très superficielle et, en tant que telle, fausse. Cette illusion découle du fait que les relations sociales effectives entre des individus de la forme sociale capitaliste sont voilées sous la forme brute et naturelle des marchandises et de la monnaie. Et pour cette raison, ce que nous voyons directement n’est que l’élargissement quantitatif et qualitatif des biens considérés en eux-mêmes, faisant abstraction du processus social qui les a fait émerger.

 

Dans son grand ouvrage, Le Capital, Karl Marx décrit la consommation comme la réalisation de la « valeur d’usage » des produits. Bien que la marchandise soit une valeur d’usage pour le simple fait de satisfaire une nécessité humaine quelconque, la réalisation de cette valeur d’usage est donnée dans sa consommation, qui est postérieure à son échange. C’est-à-dire la réalisation de la « valeur d’échange ». Cela signifie que si la valeur d’échange n’est pas réalisée, sa valeur d’utilisation ne sera pas réalisée également. En tant que marchandise, pour atteindre le domaine de la consommation, il est nécessaire d’abord de surmonter la sphère des échanges.

 

De ce point de vue, la consommation apparaît subordonnée à la sphère d’échange, même si la valeur d’usage est le support matériel de la valeur d’échange sous la forme de capital et le contenu matériel de la richesse dans chaque société. Ensuite, Marx analyse la formule de la circulation simple des produits: M-D-M (marchandise-argent-marchandise). Dans cette formule, l’argent apparaît comme un simple médiateur du processus et son objectif est la valeur d’usage. Dans d’autres termes, la forme M-D-M a pour objectif ultime de consommer et sa limite est la satisfaction des nécessités des consommateurs et leur valeur d’utilisation. Pour cette raison, ce formulaire est synthétisé par Marx sous la forme: vendre pour acheter. Mais la forme M-D-M n’est qu’un moment abstrait et superficiel des relations sociales capitalistes, visible dans la sphère des échanges de marchandises. Donc, Marx commence à analyser la forme M-D-M’, qui apporte la spécificité du processus d’échange de marchandises sous la forme de capital, considérée par Marx comme la formule générale du capital.

 

Dans la formule générale du capital, des transformations fondamentales peuvent être observées. La marchandise est achetée pour la revente et non plus pour satisfaire une nécessité individuele. L’argent ne fonctionne pas plus exclusivement comme monnaie, mais comme une forme universelle de richesse. Ce qui pousse la réalisation de ce circuit n’est pas la valeur d’utilisation, mais la valeur d’échange. De cette manière, évaluer la valeur à l’infini devient un objectif absolu. En résumé, la satisfaction des nécessités de consommation et la valeur d’usage sont transformées en simples moyens de ce mouvement insatiable d’auto-valorisation.

 

Il est évident que la valeur d’usage et la réalisation des besoins humains historiquement constitués par la consommation ne sont pas littéralement rejetées dans le mode de production capitaliste. Ce qui différencie cette forme sociale de toutes les précédentes, c’est que la production précéda de valeurs d’usage n’est plus subordonnée aux nécessités de l’homme, mais à la valorisation de la valeur. Dans toutes les relations sociales antérieures au capital, prédomine la production destinée à l’utilisation immédiate des produits du travail, à savoir que gouverne la production est la valeur d’usage et la prestation de services en nature. Pas sans raison, Marx vérifie qu’il ne se trouve jamais parmi les anciens une question sur la forme de propriété de la terre, etc., qui est la plus productive, laquelle d’entre elles crée la plus grande richesse, car la richesse (dans le sens d’accumulation) n’apparaît pas comme objectif de production.

 

Donc, la richesse se présente toujours sous son aspect matériel, dans sa configuration objective, dans ses déterminations concrètes, contrairement à la société bourgeoise dans laquelle elle est représentée dans la figure abstraite de la monnaie. Même l’exploitation et la maîtrise du travail d’autrui ont pour but la jouissance privée, la satisfaction des besoins de leurs propriétaires respectifs. Mais pas seulement : dans les formes sociales qui précéda le capital, face à la richesse considérée dans sa détermination matérielle, « l’homme se confronte comme sujet ».

 

Dans le capitalisme, l’homme qui travaille et le capitaliste lui-même n’apparaissent que comme l’un de ses moments. Le processus habituel d’accumulation du capital a lieu à l’insu des producteurs et le capital se manifeste avec la force d’un sujet automatique. En résumé, les biens de valeur ne sont plus liés les uns aux autres en tant que moyens de satisfaire les nécessités humaines. Au contraire ! Les hommes sont liés les uns aux autres pour répondre aux besoins de l’appréciation du capital et, pour cette raison, ne confrontent plus les produits matériels en tant que sujet, mais comme quelque chose d’extérieur, d’étrange, étranger à leur volonté.

 

Comme on peut le constater, à part les fausses apparences qui émergent de la sphère de la simple circulation des marchandises quand elle est autonome, toutes les formes sociales qui précéda le capital sont ce que l’on peut appeler la société de consommation. En revanche, rien de plus faux que de désigner le propre capital comme ce système connu par de la société de consommation. Nous sommes sur la société d’échange, de l’argent sous forme de richesse universelle et autonome régi par son accumulation de capital par l’extraction de la « plus-value ». En fait, dans aucun autre moment de l’histoire humaine, la consommation n’a été aussi valorisée qu’aujourd’hui.

 

La grande majorité des individus se contente d’acheter telle ou telle marchandise et le fétiche disparaît à partir de son acquisition. Aux États-Unis, par exemple, la patrie de la « consommation », il est courant que des maisons dont les garages sont bourrés de biens achetés et jamais consommés. Le rêve qui habite l’imaginaire de presque tout le monde sous cette forme sociale, capitalistes ou ouvrières, n’est pas la possession et l’usufruit de tout bien particulier, mais le montant en chiffres de son relevé bancaire.

 

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CONCEPTS :

 

Valeur d’échange : pour le marxisme, la valeur d’échange est mesurée par le temps de travail socialement nécessaire, c'est-à-dire le temps standard, pour produire une marchandise. Ainsi, il est possible de connaître le juste prix de chaque marchandise: par le temps de travail qui lui est appliquée ;

 

Valeur d’usage : est la qualité qui a un objet pour satisfaire une nécessité, déterminé par ses conditions naturelles ;

 

Plus-value : c’est la différence entre la valeur produite par le travail et le salaire versé au travailleur. C’est donc la base de l’exploitation du système capitaliste sur le marché du travail.

 

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P.S.: J’ai copié directement le concept « valeur d’usage » du site Wikipedia et l’ai traduit, comme j’ai pu. Déjà le concept « valeur d’échange », je l’ai copié partiellement sur le même site.