ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE TRADUÇÃO: REESCRITURA OU TRANSPOSIÇÃO?
"[…] Na verdade estou para condená-lo a nada menos que a desterro perpétuo, mesmo que contenha parte da criação do famoso Matteo Boiardo,10 de onde também teceu sua teia o poeta cristão Ludovico Ariosto,11 por quem não terei respeito algum, se o achar por aqui me falando em outra língua que não a sua. Mas, se me falar em seu idioma, eu o porei nas nuvens.
— Eu o tenho em italiano — disse o barbeiro —, mas não o entendo.
— Nem seria bom que o entendêsseis — respondeu o padre. — E aqui poderíamos perdoar o senhor capitão se não o tivesse trazido para a Espanha e o feito espanhol, pois lhe tirou muito de seu valor original; e o mesmo farão todos aqueles que quiserem transpor livros de verso para outra língua: por mais cuidado que tenham e habilidade que mostrem, jamais chegarão ao ponto que os versos alcançaram no primeiro parto. Digo, enfim, que este livro e todos os que tratam dessas coisas da França sejam atirados num poço seco até que com mais calma se veja o que se há de fazer […]"Cervantes, Miguel de. DOM QUIXOTE DE LA MANCHA. Cap. VI - Do grande e divertido escrutínio que o padre e o barbeiro fizeram.
Traduzir de uma língua para outra, ao que parece, é das tarefas mais difíceis, pois, mesmo que se tenha uma ideia do panorama geral da língua de partida, das imagens e até mesmo de elementos simbólicos mais complexos, “transportá-los” para uma outra língua (o que chamamos de língua de chegada), de maneira que atinjam o mesmo efeito, não é tarefa simples. Pelo contrário.
Afinal, um texto – e principalmente um texto de cunho literário, por exemplo – não é composto apenas de “conteúdo”, mas de outras matérias bem mais complexas, que afetam diretamente o seu propósito. Refiro-me a questões como estilo, figuras de linguagem, dentre outras, que podem obscurecê-lo mais que clareá-lo[1].
Obviamente, que ao se traduzir um texto, o tradutor não pode – ao menos ao meu ver – sofrer a tentação de deixar a obra traduzida tal qual sua original, não escoimando uma única vírgula sequer. Ora, se cada língua tem seu ritmo e seus modos de dizer algo, a tradução literal significa o avesso da fidelidade, pois ao fazê-la torna o texto repleto de “obstáculos” indesejáveis, afastando-o da língua nativa do leitor ao qual se destina, ao mesmo tempo em que o força não somente a compreender elementos históricos-culturais do autor do texto base, mas também força-o a captar o ritmo da língua de partida. Segundo Ernani Ssó:
A tentação menardiana é compreensível, mas não se aguenta em pé: as palavras não têm a consistência dos números. O número sete vale sete numa conta tanto em Trombudo do Norte como em Cuernavaca ou na Cochinchina. Mas sete não vale sete num texto. A palavra “sete”, para nós, evoca sorte, mentira, esoterismo. Vá saber o que evoca na Cochinchina. A cultura e o lugar alteram, ou colorem, o significado de uma palavra. O tempo, então, nem se fala. No caso do Quixote o tempo talvez seja o fator mais hostil.[2]
Obviamente que isso parece claro, talvez ululante, até constrangedor. Principalmente se tomarmos como premissa o argumento de Ssó. Todavia, muitas das traduções brasileiras, quando não recorrem a este modus operandi, por vezes acabam estilizando demais o texto original, deixando-o bem outro na língua de chegada. Um exemplo é o livro Fausto, de Goethe, que a tradução brasileira[3] tornou o texto mais obscuro que a obra original.
Todavia, a tentação ciceroniana em deixar o texto mais compreensivo, importando-se com conteúdo em detrimento da forma – assim como faziam os tradutores franceses à época de sua grande Revolução – parece-me também no mínimo perturbador, já que à tradução cabem algumas piruetas em uma berlinda, mas jamais o salto da corda, como bem explanou Ssó. Não vejo a literatura (como qualquer outro tipo de texto) como uma “reescritura completa”, uma espécie de adaptação do original em que pese somente o texto de chegada.
A esse respeito, Paul Groussac[4], em sua Segunda conferência sobre Cervantes e o Quixote, fez uma observação interessante e bastante pertinente: “esse admirável primeiro capítulo, o melhor do livro, e cujo esmero nos traz involuntariamente à memória (apenas a lembrança parece uma crueldade) o tempo e o vagar de que gozava o preso para cuidar seu estilo”. Parece ótima a constatação, porém faz-se necessário lembrar que Cervantes, apesar do aparente desleixo[5], é fluente. Aliás, não somente fluente, mas atual, complexo no concerne às suas inovações artísticas e bastante cheio de graça. Indo na esteira de Ssó:
Enfim, mesmo que eu tivesse o cacife de Borges, não me meteria a copidescar Cervantes. Não copidesco nem romances populares. Não é por ser bonzinho ou muito humilde. É mais simples: uma tradução é meio como andar na corda bamba. Pode-se fazer uma ou outra pirueta, mas saltar da corda, mesmo para cair de pé com a elegância devida, é outro espetáculo. Se me passei numa ou noutra frase ou palavra, foi em nome da clareza e do vigor. Na hora do aperto, prefiro ser mais fiel ao Quixote que a Cervantes. Se essa distinção parece obscura, paciência, logo chegaremos aos exemplos.[6]
Partindo dessa reflexão, cabem alguns questionamentos. O primeiro deles – e acho que o mais sensível – é o de sabermos como recuperar para a língua de chegada toda a fluência que existe no texto de partida. Se estou bem certo, o primeiro autor a se preocupar mais detidamente sobre estas questões foi Martin Luther (o Lutero). Para o autor alemão, tradutor da bíblia, quem quer falar alemão não deve seguir a estrutura linguística do hebreu, mas cuidar de entender o homem hebreu para captar o sentido, e refletir: como falaria um homem alemão neste caso? Quando tiver encontrado as palavras alemãs adequadas, deve libertar-se das palavras hebreias e expressar livremente o sentido no melhor alemão de que for capaz.
Seguindo a lógica luterana, o tradutor não deve se prender à estrutura gramatical de uma língua, já que cada uma expressa o mundo de uma maneira diversa. Continuando em Cervantes, aquele que o traduzir para o português, deverá fazê-lo de uma forma como se o próprio autor escrevesse em português, para que o texto não desafine e para que Quixote não arranje um outro adversário, muito mais perigoso que os de suas aventuras: a língua de chegada. Daí a necessidade da análise, do estudo da língua de partida, bem como da cultura do povo e do escritor que a escreveu no original. Retornemos a Ssó, para que nos ajude com exemplos:
Como uma discussão sem exemplos práticos não serve para grande coisa, vamos a um, pego ao acaso. No capítulo XXVI da segunda parte, depois que dom Quixote destroça a espadadas o teatro de marionetes, mestre Pedro diz: “Con que me pagase el señor don Quijote alguna parte de las hechuras que me ha deshecho, quedaría contento y su merced aseguraría su conciencia”. Atenção ao grifo. Segundo os dicionários, o equivalente em português é “as feituras que me desfez”. Quantos de nós entendemos a piada sem consultá-los?[7]
Guimarães Rosa, por exemplo, para quem “traduzir é conviver”, se tornou um grande admirador de seu tradutor em italiano. Segundo o mestre das palavras, Grande Sertão: Veredas era melhor em italiano que no seu idioma original, o “português”. Fluente em italiano, Rosa reconheceu em seu tradutor um outro autor, bastante profuso e que soube levar o sertão para a Itália. Afinal, como o próprio autor ressalta, o sertão é o mundo.
Bem da verdade, o que fez o tradutor foi muito mais que um “simples” trabalho de decodificação linguística, transportando (de maneira assaz competente) para o modo de ser e pensar do italiano uma obra bastante complexa escrita em uma outra língua. O trabalho foi amplamente mais árduo, ainda mais se pensarmos que Bizzarri, o tradutor de Rosa para o italiano, teve que lidar com nada mais nada menos que 942 neologismos em Grande Sertão: Veredas. O que demandou não somente um estudo aprofundado do autor mineiro, mas também e principalmente um conhecimento bastante profundo de outras línguas, como alemão e latim[8], bem como ter um conhecimento quase que enciclopédico da cultura brasileira de uma determinada região. Todavia, mesmo com todos estes conhecimentos, nada seria possível se o tradutor não dominasse com mestria seu próprio idioma, pois a um tradutor, mais que a língua de partida, é necessário que conheça a língua de chegada. Ou seja, é preciso um domínio amplamente superior do italiano que do próprio português brasileiro, ou melhor, que do português falado por brasileiros em uma determinada região do país.
Entretanto, os problemas não cessam aí. No início desta argumentação explanei que a tradução ipsis literis, palavra por palavra, significa ser infiel por desprezar as diferenças entre as línguas de partida e de chegada. Agora, o que fazer, por exemplo, com termos caros à obra, termos que podem situar uma obra universal à época e ao espaço em que foi escrita? Ao meu ver, esses termos devem ser mantidos os mais fieis possíveis, sendo complementados, se necessário for, por notas de rodapé que situem o leitor na narrativa. A mim parece óbvio! Porém, embora seja um recurso bastante pertinente na tradução de uma obra como Dom Quixote de la Mancha, não é possível em Grande Sertão: Veredas, esta obra de cavalaria do século XX. Se a cada neologismo o autor for complementar o conceito com uma ou outra nota de rodapé, imaginemos o quão enfadonha e cansativa se tornará a leitura de uma obra densa como a de Rosa.
Veja o trabalho monumental do tradutor. Traduzir é antes de tudo (re)escrever. Afinal, se os escritores criam as literaturas nacionais, cabe aos tradutores fazerem a literatura universal. Senão, de que outra maneira poderíamos ler Shakespeare, Rosa, Dostoiévski, Camões, Homero, Cecília Meireles ou Nagib Mahfuz, artistas tão diferentes e dispersos no tempo e no espaço? Como poderíamos chorar com Jean Valjean, nos compadecer de Mulan e rirmos com Gargântua, senão pelo contato da obra traduzida? Notemos aí, por meio de alguns simples exemplos, que mesmo a tradução pensada para a língua de chegada, imaginando-a escrita diretamente nesta língua[9], denota em si mesma uma complexidade bastante grande. E isso porque nos restringimos basicamente em discutir textos em prosa, apesar da categoria textual múltipla em que ao meu ver se insere Grande Sertão: Veredas. Quando o assunto é verso, a tarefa é ainda mais árdua, pois outros elementos próprios da linguagem poética do autor (rima, ritmo, jogo de palavras, musicalidade...) precisam ser respeitados.
Ernesto Sábato, em uma conversa com Jorge Luiz Borges, afirmou preferir pensar os tradutores como escritores de estilo mais apagado, pois somente desta forma não poderiam interferir no estilo da obra original. Ao meu ver, este princípio parece mais um desvão daquele em que busca recriar a obra de arte no contexto da língua de chegada, a exemplo do que buscava Schleiermacher. Ora, se cabe ao tradutor o ofício de (re)escrever uma obra em uma outra língua, como o fazer de maneira “pura”? Certamente que incorreria em uma tradução em boa parte estéril, sem carisma Ou muito me engano, ou um escritor com estilo mais vivo tem mais recursos estéticos e estilísticos para criar e recriar sua obra. Todavia, como uma parte enorme das decisões depende de fatores subjetivos, fica fácil criticar qualquer tradução, por melhor que seja.
Voltemos a Ernani Ssó:
Os inumeráveis ditados de Sancho deram um trabalho à parte. Gastei horas e horas atrás de ditados equivalentes, quando eles perdiam agilidade e harmonia em português, ou eram de compreensão duvidosa, ou tinham sua graça ameaçada. Os rimados foram os piores. Por exemplo, o que fazer com “não importa com quem nasces, mas com quem pasces”? Uma piada evidente no tempo de Cervantes, mas você tem de ser um leitor inveterado de dicionários para saber o que é “pasces”. Então? Então parti para o tudo ou nada: reinventei o ditado. “Não importa a casta, mas com quem se pasta.”[10]
Há, como se pode notar, um problema diacrônico, que remete não somente à solução que o tradutor precisa encontrar para a (re)significação de antigos provérbios que precisam ser traduzidos para um outro idioma alguns séculos mais tarde. Mas também de percepção de mundo: os personagens às vezes se atiram a longos discursos, com frases intrincadas e palavras luxuosas. Facilmente esses discursos podem se tornar pomposos na língua de chegada, já parte não desprezível deles – em decorrência do tempo que os separam de hoje – podem beirar ao absurdo.
Segundo Dom Quixote, traduzir de uma língua fácil não prova nem talento nem bom estilo, como buscamos mostrar na citação que abre este texto, “como não o prova quem transcreve ou copia um texto de um papel para outro”. Como complementa Ernani Ssó: “Para nós, que falamos português, o espanhol está entre as línguas fáceis, bem mais acessível que o francês e o italiano. Talvez só perca para o galego. Bem, tenha ou não tenha razão o velho fidalgo, uma coisa é certa: não tive a felicidade do doutor Cristóbal de Figueroa nem a de dom Juan de Jáuregui. Assim, devo me contentar por não ter empregado meu tempo em coisas piores e torcer para, nos embates com as semelhanças enganosas, não ter feito uma triste figura, como nosso cavaleiro ao apanhar de um moinho”.
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REFERÊNCIAS
AMATE, Virginia Gil. Las conferencias de Paul Groussac sobre Cervantes y el Quijote. In: Territorios de la Mancha. Versiones e subversiones cervantinas em la literatura hispanoamericana. Actas del VI Congresso Internacional de la Asociación Española de Estudios Literarios Hispanoamericanos. Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha, 2007, p. 341-355.
Fröhlich, Luciane Reiter. SENDBRIEF VOM DOLMETSCHEN de Martinho Lutero. 2004. 94 f. Dissertação de Mestrado. Centro de Comunicação e Expressão, UFSC, Florianópolis, 2005.
FURLAN, Mauri. Brevíssima História da Teoria da Tradução no Ocidente. 1.ed. Florianópolis: Editora da UFSC. [s.d.].
________________. A teoria de tradução de Lutero. 2004. In: Annete Endruschat & Axel Schönberger (orgs.). Übersetzung und Übersetzen aus dem und ins Portugiesische. Frankfurt am Main: Domus Editoria Europaea. (p. 11-21).
NATALINO, Laís Gonçalves. A palavra e o significado sob a percepção do tradutor renascentista. Belas Infiéis, v. 2, n. 1, p. 149-156, 2013.
ROMAN, Jakobson. Linguística e Comunicação. 1.ed. São Paulo: Cultrix. [s.d.].
Schleiermacher, Friedrich. Über die verschiedenen Methoden des Übersetzens / Sobre os diferentes Métodos de Tradução. In: Clássicos da Teoria da Tradução. Antologia Bilingue. Vol. 1. Alemão Português. Werner Heidermann (Org.). Florianópolis: UFSC/Nuplitt, 2001, p. 25-87.
__________________________. Über die verschiedenen Methoden des Übersetzens / Sobre os diferentes Métodos de Traduzir. In: Revista Princípios, Vol. 14, Nº 21, 2007, p. 233-265; tradução revisada pelo tradutor e republicada in Clássicos da Teoria da Tradução. Antologia Bilingue. Vol. 1. Alemão Português. Werner Heidermann (Org.). 2.ed. Florianópolis: UFSC / Nuplitt, 2011, p. 39-101.
SSÓ, Ernani. Reflexões de um escudeiro de Cervantes. In: CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote de la Mancha. [s.e.]. São Paulo: Penguim. [s.d.].
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NOTAS
1 A palavra traduzir se origina do latim TRADUCERE, “converter, mudar”, originalmente “transferir, guiar”, de TRANS- mais DUCERE, “guiar, conduzir”.Segundo o dicionário eletrônico Houaiss, Traduzir é “transpor de uma língua para outra”. Essa definição, entretanto, é bastante reducionista, já que o processo de transferência de significados não necessita necessariamente ser de uma língua para outra, pois segundo Jakobson, além da tradução interlingual, ou tradução propriamente dita, que consiste na interpretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua, existe a intralingual, que é a interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua, bastante corrente em uma conversa entre um adulto e uma criança, assim como em uma conversa entre duas pessoas de regiões diferentes de um mesmo país, ou até de países distintos. Além dessas, e segundo ainda o próprio Jakobson, existe uma outra tradução, denominada por ele de intersemiótica, que nada mais é que a interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais. Entre as traduções desse tipo, encontra-se a das artes plásticas e visuais para a linguagem verbal e vice-versa, ou a tradução de um texto literário para o teatro ou para o cinema. Contudo, a intenção deste texto é discutir apenas a tradução interlingual a partir de um texto escrito.
2 SSÓ, Ernani. Reflexões de um escudeiro de Cervantes. In: CERVANTES, Miguel de. Dom Quixote de la Mancha. [s.e]. São Paulo: Penguim. [s.d].
3 GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto. Tradução de Jenny Klabin Segall. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1997.
4 AMATE, Virginia Gil. Las conferencias de Paul Groussac sobre Cervantes y el Quijote. In: Territorios de la Mancha. Versiones e subversiones cervantinas em la literatura hispanoamericana. Actas del VI Congresso Internacional de la Asociación Española de Estudios Literarios Hispanoamericanos. Cuenca: Ediciones de la Universidad de Castilla-La Mancha, 2007, p. 341-355.
5 Particularmente, acho a linguagem de Dom Quixote revolucionária para a época e muito bem trabalhada, no que diz respeito ao fluxo narrativo. Se utilizo o termo “desleixo”, o faço por “imitar” alguns estudiosos de Cervantes, sem contudo concordar com a asserção. A verdade é que Cervantes brinca com a linguagem, parodiando estilos, mas nem sempre de modo escancarado. Às vezes parece compartilhar a seriedade da personagem, mas sempre de maneira muito sutil. Porém, neste jogo de vai e vem, boa parte da graça e da ironia da obra dependem de pequenos detalhes. Assim como dependem também da aceitação do jogo por parte do leitor — se ele aceita e adentra a atmosfera proposta por Cervantes, à medida que se debruça e compartilha com Dom Quixote suas aventuras, fica cada vez mais gostosa.
6 SSÓ, Ernani. Reflexões de um escudeiro de Cervantes. Op.Cit.
7 SSÓ, Ernani. Idem.
8 Muitos dos aproximadamente 1200 neologismos rosianos foram criados a partir do alemão, do latim e do grego.
9 Na contramão desta forma de pensar tradução, cito outro alemão, mais próximo de nós que Lutero, que é do século XIV. Refiro-me a Schleiermacher, filósofo e tradutor alemão do século da segunda metade do século XVIII e primeira metade do século seguinte, que optou por aproximar o leitor do autor, proposta que dificulta a leitura por exigir daquele um conhecimento mais aprofundado deste. Oriundo de uma época em que a Alemanha não existia enquanto nação, Friedrich Schleiermacher acreditava em uma tradução como forma de enriquecer a língua alemã, para ele pobre. Daí todo o seu esforço em forjar uma tradução mais próxima o possível do original. Não se trata de uma tradução palavra por palavra, mas sim de uma em que respeitasse ao máximo elementos culturais e estruturais da língua de partida, praticamente desprezando os da língua de chegada. Seu projeto de tradução estava alinhado politicamente com o do refinamento da língua alemã, bem como com um projeto elitista de nação, aos moldes das potências capitalistas europeias, a exemplo de França, Holanda e Inglaterra.
10 SSÓ, Ernani. Idem.