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Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Bom, bonito, Livre e de graça

20.09.07

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    É comum dizermos que a internet é/foi uma revolução. Porém, o que a maioria das pessoas não entendem é a real profundidade de uma Revolução. A expressão Revolução sugere ruptura, mudança brusca no modo de ver e pensar o mundo, abertura e crescimento. Só se pode afirmar que houve de fato uma Revolução quando os ícones (os símbolos) à sua volta foram duramente atacados e vencidos, passando não mais a existirem, ou, na melhor das hipóteses, existindo, mas não sendo dominantes. Na história temos alguns momentos revolucionários, como o cristianismo, que alterou toda a concepção de ver o mundo no Ocidente, a Revolução Francesa (1789), que alterou os modelos sociais e de produção, institucionalizando o capitalismo, e a Revolução Russa (1917), a mais importante, sem dúvida alguma, das Revoluções do século XX.

 

    Porém, como já deve ser sabido pela maioria, uma Revolução não se dá através de um fato esporádico e isolado no tempo e no espaço. Ela nasce, na verdade, bem antes: no seio da sociedade que ela mesma derrubará. Em outras palavras, como diria o velho Marx, o modelo econômico (sócio-político) oferece as ferramentas para a sua própria derrocada. Em suma, o capitalismo nasceu nos burgos e no seio dos palacetes reais mantidos pelo modelo escravista, como o socialismo nasce do capitalismo, independentemente de crerem ou não nessa hipótese*.

 

    O que quero dizer que tudo isso é que a Internet é sim um instrumento que, se não é revolucionário, ao menos é "simpático" à revolução. Vejamos bem o porquê: a internet está mudando substancialmente e sistematicamente os hábitos das pessoas. Quando é que, há 10 ou 12 anos atrás, um sujeito iria conhecer outro em estados ou países diferentes sem sair de casa? Ou então, quando um acadêmico teria acesso a trabalhos produzidos por outros acadêmicos, em outras instituições universitárias, com poucos cliques em um mouse? A internet democratiza de fato quase tudo: possibilita a difusão real de informações e a troca de experiências mútuas entre pessoas de diversos locais. A ÚNICA FRONTEIRA A SER VENCIDA É A FRONTEIRA LINGÜÍSTICA. Até mesmo o flerte amoroso, o namoro, ficou diferente com o advento da Internet. Lembro que na minha época de adolescente (não que eu seja velho - hehehe), a aproximação junto a uma garota era uma tarefa das mais difíceis. Hoje um  simples e-mail resolve esse problema.

 

    Todavia, quando afirmo que a World Wide Web é apenas simpática à revolução é porque, apesar de ser extremamente revolucionária, corrobora também o pensamento alienador pregado e difundido pelas elites burguesas mundiais, na medida em que acaba encastelando, algumas (ou muitas?) vezes, sujeitos dentro de seus próprios ninhos. A prova disso são as pessoas viciadas em messengers e/ou sítios de relacionamentos, como o orkut ou o gazzag, por exemplo. Para essas pessoas até o sexo, muitas vezes, é virtual. O mundo que o cerca é virtual; tudo é uma grande matrix. Ou seja, existem pessoas que não têm convívio social fora do ambiente virtual. O que a inernet revolucionou foi a possibilidade de todos expressarem -- mesmo que não em pé de igualdade com os grandes portais mantidos pelas empresas que estão no poder -- via rede. Fato que não aconteceu com o rádio, com o cinema e com a TV, como bem constatou Adorno.

 

    Hoje, em pleno século XXI**, assistimos a uma outra Revolução, talvez tão poderosa quanto a Internet, que é a ascensão dos softwares livres. Mas o que são de fato esses softwares? Segundo a Wikipédia (http://www.wikipedia.org), "Software livre é qualquer programa de computador que pode ser usado, copiado, estudado, modificado e redistribuído sem nenhuma restrição. A liberdade de tais diretrizes é central ao conceito, o qual se opõe ao conceito de software proprietário, mas não ao software que é vendido almejando lucro. A maneira usual de distribuição de software livre é anexar a este uma licença de software livre, e tornar o código fonte do programa disponível. O software livre também é conhecido pelo acrônimo FLOSS (do inglês Free/Libre Open Source Software)".

 

    Esses programas têm mudado o perfil do usuário em informática e têm forçado as empresas de softwares proprietários (softwares comerciais) e reduzirem os preços de seus produtos, como forma de não perder tanto mercado. Porém, a grande vantagem de um software livre talvez não seja o preço (gratuito), mas sim a liberdade que ele proporciona ao usuário, a adaptabilidade às novas tecnologias de Informação e a constate e rápida melhoria nos programas, na medida em que um número muito maior de empresas e programadores têm acesso ao seu código fonte***. Daí hoje softwares como Linux, OpenOffice, Firefox, Gimp, Scribus e Blender serem, senão superiores, iguais aos offices proprietários concorrentes.

 

    Essa real mudança no perfil do usuário em informática, não coincidentemente, num momento em que o neo-liberalismo -- encabeçado principalmente pelos EUA -- está perdendo suas forças e entrando em "retrocesso". Prova disso são os altos índices de desemprego que assolam países como EUA, Alemanha e Itália, por exemplo, e a recessão das economias francesa, inglesa e estadunidense. O caos é iminente e mudanças serão necessárias. E uma delas já está acontecendo nesse exato momento. Chegará o dia em que a maioria dos "pcs home" utilizarão softwares livres. Quem viver verá.

 

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* O que não pode haver é a confusão entre Revolução e Reforma. Reforma seria uma tentativa de mudança, pequena que fosse, dentro do modelo estrutural vigente, porém nunca uma ruptura desse modelo, como propõe a Revolução. É o que busca, em tese, uma "frente popular" (modelo teoricamente adotado pelo PT de Lula, porém muito mais antigo, como todas as táticas políticas atuais). Na Reforma não há mudança política estrutural, como também não melhoria na qualidade de vida da maioria da população.

 

** Século que se iniciou somente no dia 11 de setembro, após o ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, EUA.

 

*** Empresas como a Sun Microsistems, Red Hat, IBM, Novel, Google, dentre outras, já lucram explorando esse vasto mercado de software livre. A Sun, por exemplo, liberou parte do código fonte do StarOffice para a criação do OpenOffice. Como a empresa não perde a licença, o código fonte deste é responsável pela melhoria daquele (StarOffice), que evolui rapidamente, passando a ter uma abrangência e um reconhecimento muito maior no mercado de informática. Muitas vezes, programas livres como o OpenOffice, o Blender ou o Firefox, por exemplo, são multi-plataforma, ou seja, funcionam tanto em Linux, como em Windows ou Mac.

Imagens sedimentadas de um país colonizado

20.09.07
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    Sem surpresas abro o sítio do PSTU* (http://www.pstu.org.br) e me deparo com a manchete estampada, em destaque, na página inicial: Renam Calheiros** é a cara do  Congresso. À manchete seguia uma leitura detalhada da sessão que impugnou a cassação do Senador e a perda de seu cargo na presidência do Senado brasileiro. "Por todo o país, milhares de trabalhadores reagiram com profunda indignação. Afinal, os pobres são presos, espancados pela polícia e passam anos na cadeia. Os ladrões ricos seguem sendo senadores, deputados e juízes. Continuam sua vida, recebem seus altos salários, sem nenhum problema" - afirmavam indignados, e com razão, os redatores da notícia.

    O motivo pelo qual se deu o pedido de cassação do Senador condiz com o fato dele, por meio do lobista Cláudio Montijo, ter pago contas pessoais de Mônica Veloso, com quem teve uma filha, no valor de R$ 12 mil*** (doze mil reais) mensais.
À frente de toda operação para salvar o presidente do Senado, estava o PT****, encabeçando a base do governo. Também os setores da oposição de direita, próximos a Renan, se movimentaram para garantir a impunidade ao senador.

   
Às vésperas da sessão, os aliados realizaram um intenso corpo a corpo e lançaram mão dos velhos mecanismos para angariar apoio para Renan: troca de favores políticos e cargos, liberação de verbas do Estado, etc. Corrupção descarada, praticada à luz do dia. Tudo com o apoio do Planalto. Desde o início da crise, o governo se mobilizou para livrar Renan. Lula mal conseguiu disfarçar seu apoio ao corrupto senador. Questionado por repórteres, o presidente disse que “todo ser humano, todo brasileiro, 190 milhões de brasileiros, inclusive você, terá o meu apoio porque todos são inocentes até prova em contrário”.

    Renan e sua tropa de choque diziam ao governo que, caso o senador fosse cassado, a coligação de partidos que compõe a base aliada de Lula no Senado (da qual o PMDB tem importância central) estaria ameaçada. Isso explica porque a líder do governo, senadora Ideli Salvati (PT-SC - meu estado), e o senador Aloizio Mercadante trabalharam intensamente pra livrar a cara de Renan. Ao final, Mercadante procurou diminuir seu desgaste dizendo que se absteve. O voto, na prática, ajudou Renan.

    Também foi escandalosa a posição adotada pelo PCdoB e seu senador, Inácio Arruda (CE). Apesar de fazer mistérios sobre como votaria, Arruda nem precisou revelar seu voto, pois o próprio sítio do seu partido não cansou de fazer uma intensa campanha pró-Renan. “Depois de três meses de investigações nas quais a vida pública e privada do senador foi revirada e vasculhada não se encontrou uma única prova que confirmasse tal acusação”, afirma na maior cara-de-pau o artigo do PCdoB, publicado no último dia 12.

    Como bons mafiosos que são a maioria do Senado acabou protegendo o senador por ter, juntamente com ele, o "rabo preso", como comumente se diz na gíria. Isso porque se o senador da república fosse de fato caçado muitos (diga a imensa maioria) iriam com ele, desencadeando um verdadeiro efeito cascata.
A sessão do Senado que votou o relatório do Conselho de Ética foi um show de escândalos. Sacando uma medida prevista pelo regimento interno da Casa, a mesa do Senado impôs uma sessão secreta. Afinal, coisa feia se faz escondido...

    O som do microfone chegou a ser desligado para que ninguém ouvisse os discursos e as ameaças trocadas entre os parlamentares. A cena lembrou velhos filmes sobre máfias. Sem que ninguém pudesse ouvi-los, os senadores negociaram livremente cada voto, como um verdadeiro antro de gangsters. Para coroar o ridículo espetáculo, o vice-presidente do Senado, o petista Tião Viana, chegou a proibir o uso de celulares e computadores portáteis no plenário, ameaçando de cassação os senadores que revelassem informações sobre a sessão (!). Foi a desmoralização do próprio absurdo.

    Mesmo assim, várias informações vazaram e logo se descobriu o motivo que salvou Renan. Cassando Renan, os senadores poderiam abrir um precedente que levaria à degola de inúmeros outros parlamentares. Afinal, todos estão com o rabo preso em vários trambiques, como sonegação de impostos, caixa dois e, principalmente, com o financiamento de empreiteiras e de bancos. Mesmo a campanha presidencial de Lula foi financiada por grandes empreiteiras.

    Entre as maiores doadoras estão as construtoras Camargo Corrêa, OAS e Andrade Gutierrez. A campanha para a reeleição de Lula levou R$ 6,7 milhões dessas três. Metade das empreiteiras que aparecem na lista das vinte entidades melhor contempladas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está entre as maiores doadoras das eleições gerais do ano passado. Sabendo disso, o presidente do Senado e sua tropa de choque ameaçavam abrir os “portões do inferno”, revelando os crimes e a corrupção escondida debaixo do colarinho de cada parlamentar para disseminar o medo. Em certo ponto do discurso, o próprio Renan ameaçou "abrir o jogo" e contar tudo o que acontece dentro das paredes do Senado da Repúlica... Todos entenderam o recado.

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* Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, seção brasileira da LIT - 4 QI (Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional), encabeçada pelo Revolucionário Russo e comandante do exército vermelho, Leon Trotsky.

** Presidente do desprestigiado Senado brasileiro e filiado ao PMDB do estado de Alagoas, um dos mais pobres estados do Brasil.

*** Moeda brasileira desde 1994 e que corresponde a, aproximadamente, 4.500 euros. Porém, como acredito ser o custo de vida mais alto em Portugal que em muitos pontos do Brasil (talvez não mais alto que o de Florianópolis, ilha onde resido), fiquemos com esse valor mesmo em euros, ou aproximadamente esse valor.

**** Partido dos Trabalhadores, partido do atual presidente da república: Luiz Inácio Lula da Silva.