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Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Práxis

Os filósofos limitaram-se sempre a interpretar o mundo de diversas maneiras; porém, o que importa é modificá-lo.

Nasce um texto...

19.09.07

Partitura - Vincijun.jpg

 

     Quando se escreve um texto, seja ele longo ou curto, romance ou conto, uma crônica ou um poema, é porque algo se tem a dizer. Há a necessidade de se exprimir, de repassar suas idéias e sentimentos seja como homem, seja como escritor, ou ainda ambos, pois um não vive e se completa sem o outro. Quando brota da mente do escritor, o texto vem simplesmente pela teimosa necessidade "físico-psicológica" de se expressar, de se deixar dizer, de chocar e polemizar. Talvez pelo fato de não ter nada mais importante, para aquele que escreve, que o escrever propriamente; talvez não, talvez seja uma intervenção qualquer, física ou psicológica (ou ambas), multicolor e multifacial, que degrade o escritor segundo a segundo, fazendo culminar o texto: uma explosão de sentidos e idéias ruminadas no cérebro.
 
    Sentado em sua cadeira ou poltrona, bruxuleando movimentos frenéticos e com as pontas dos dedos calosas em decorrência do contato com os teclados, ou da força exercida para segurar o cotoco de lápis corrente numa folha de papel, o escritor conserva a constante e teimosa mania de escrever. E a faz não porque é sensível ou manipulador, mas porque é um amargurado, um sóbrio desatinado, um átomo entre milhões de átomos, somente não seco, que busca na vida, e para a vida, um sentido. Em síntese, é um artista por excelência, e por isso escreve, e se balança, e se contorce, e se dedica tão febrilmente a tal aguçada arte..., para abafar as angústias da mente e do coração.

    É quase uma paranóia, um frenesi assumido por esse híbrido e louco personagem que desemboca nas páginas todo o seu viço rançoso de homem comprometido e amargurado, que bebe, a sorvos esparsos, seu uísque ou café. Com um olho na tela do computador (ou na folha) e outro na droga, sua e chora e conversa. E procura sempre o melhor, porque talvez saiba que se expressar não basta e que para dizer algo tem que o redizer, pois quase tudo, e isto é certo, é/foi dito.

    Com isso transgride muitas vezes e se aporrinha outras tantas, pela sua repentina e inquietante impaciência, pois evita escrever às escuras, por não ser fácil a sua tarefa, nem suave. Muito pelo contrário. Ele briga, esperneia, e quando o espírito não está bom para tão árduo exercício, ele escreve mesmo assim, só para ter a certeza do dever cumprido, da tarefa concluída. Nasce aí mais um filho, gerado de si totalmente, de suas entranhas de escritor convulsivo. Nasce o texto tão esperado, com todas as mandingas e artimanhas do artista escritor, de olhos vermelhos à frente do monitor de computador. Um texto seu que não é seu, com toda a fraca força imbuída em suas palavras. Leia-o, se quiseres, ou não, leitor. É sua a escolha.

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ESSE TEXTO É DE 29/05/2002. POSTEI-O (TRANSCREVI-O) AQUI POR UM SIMPLES E ÚNICO MOTIVO: DIALOGAR COM O TEXTO QUE O PRECEDEU AQUI NO BLOG DO SAPO. NO MOMENTO EM QUE EU ESCREVIA AQUELE, LEMBREI-ME QUE TINHA ESTE ESCRITO. FICA AÍ PARA O DEBATE...

Conexão Brasil-Portugal

19.09.07

 

portuguesbrasilportugal.jpg

 

(...) cada pessoa não é, para nós, nada mais do que essa estrutura ou esse modo de estar no mundo.

(Maurice Merleau-Ponty)


    A todos que não me vão ler um breve e seco "Olá". Como é a primeira vez que escrevo em um blog nem sei ao certo o que postar. Certamente que não sou a primeira pessoa a sentar em frente a um computador para publicar esparsas palavras soltadas a esmo, sem nem saber o que dizer. É quando vem à tona, meio que inconscientemente, aquela afamada pergunta: E agora, o que fazer?, ou então, O que estou fazendo aqui?

    Provavelmente nem estaria agora forcejando o espírito para escrever algo minimamente interessante se soubesse o que estou fazendo aqui. Talvez daí decorra esse ímpeto, essa vontade de "versejar" poucas palavras: uma espécie de tentativa de auto-descobrimento, auto-controle dos meus impulsos mais recônditos. Mesmo que esses impulsos -- histeria de quem escreve -- não sejam percebidos por viva alma sequer.

    Acredito que escrever um blog não seja algo muito diferente do que escrever um livro, por exemplo. Ao menos no sentido do ato solitário de quem o escreve. Solidão que pode crescer e tomar maiores proporções se quem escreve parar para pensar que jamais será lido, a não ser por si próprio. O que não tem a devida graça, diga-se de passagem, na medida em que se ler, ou melhor, se auto-reler, é não extereorizar, algumas vezes (ou muitas?), suas próprias convulsões e angústias. É se encastelar duas vezes; se emparedar feito fera amendontrada nas infinitas trevas escondidas por trás das palavras.

    E se isso de fato for o veredito final desse "aporrinhado" texto, o escritor não se expõe, passando a ser qualquer imagem borrada e/ou turva que se faça dele. Deixa de ter identidade, credo e visão política das coisas que o cercam. Passa a ser, como diz Backthin, uma idéia, uma imagem pré-concebida e que, muitas vezes, não condiz (ou estou errado? -- eita dúvida...) com seu modo e motivo de estar no mundo.

    Eita dúvida cruel: escrever e exorcizar os fantasmas dentro de si, correndo o risco destes gravitarem nas linhas tortas de seus textos, ou não escrever e se angustiar com esses mesmos fantasmas lhe azucrinando os pensamentos? Dizem que o texto, quando feito, é um parto, um filho seu. Será mesmo? Não será o texto o inverso disso? Não será o texto a morte, ao menos que temporária, das angústias que dilaceram aos poucos a alma do escritor? Esse argumento pode ser perfeitamente plausível, ainda mais se entender-se a morte como algo passageiro, como uma espécie de rito de passagem para um outro cosmos. Isto é, como renascimento, como diria Leonardo Boff. Sob esse aspecto, os substantivos "texto" e "filho" se intercruzariam, tornando-se, por vezes, um só.

    Dessa forma, o texto atuaria como algo disseminador, contaminando terceiros com suas angústias e reflexões, que seriam contaminadas com outras angústias e reflexões. Assim, texto não lido é texto morto nos seus próprios ideais. É como se ele germinasse rapidamente, como girinos em poças d'água, mas secasse em seguida, secando igualmente o escritor, seu "pai", que estagnou, se petrificou no tempo e não se contaminou com as angústias e reflexões de outros tantos angustiados.

    Penso que encontrei o propósito para esse texto. Eis o motivo principal dessa conexão Brasil-Portugal, ou talvez não. De repente esse rapaz do sul do Brasil, de um estado denominado Santa Catarina, oriundo de uma bela ilha colonizada por açorianos (capital desse mesmo estado), não seja ouvido. Sei lá eu qual o destino desse texto. Será também que existe alguém interessado em me "ouvir", em dialogar comigo, dividindo e compartilhando minhas angústias? Perguntas e mais perguntas... Somente o tempo poderá respondê-las, ninguém mais.